Julião Sarmento. Flashback

Exposição itinerante do artista Julião Sarmento (1948-2021), organizada em parceria entre o Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía e a Fundação Calouste Gulbenkian. A exposição foi comissariada por James Lingwood e incluiu algumas obras do artista realizadas em 1975, assim como trabalhos mais recentes em filmes e diapositivos.
Travelling exhibition of work by artist Julião Sarmento (1948) organised in a partnership between the Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia and the Calouste Gulbenkian Foundation. Curated by James Lingwood, the show included works produced by the artist in 1975, as well as more recent films and slides.

Em 1999, por iniciativa do Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, foi realizada em Madrid no Palácio Velázquez a exposição «Flashback», do artista Julião Sarmento (1948). No ano seguinte, por interferência do então diretor do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, Jorge Molder, a exposição foi apresentada na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG).

A curadora do Museo Reina Sofía e responsável de exposições do Palácio Velázquez, Alicia Chillida, exprimiu o seu entusiasmo pela apresentação da exposição em Lisboa numa carta que enviou a Jorge Molder: «We have known through Julião [Sarmento] about your interest in this project, the Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia would be delighted to include the Fundação Gulbenkian in the touring of the exhibition.» (Carta de Alicia Chillida para Jorge Molder, 7 mai. 1999, Arquivos Gulbenkian, CAM 00422)

A par do interesse na exposição, a colaboração entre os dois museus foi igualmente sublinhada: «El Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía está muy satisfecho de esta colaboración con la Fundación Gulbenkian en la itinerancia de esta muestra y espera que existan más oportunidades para futuras colaboraciones entre ambas instituciones.» (Carta de Alicia Chillida para Jorge Molder, 22 dez. 1999, Arquivos Gulbenkian, CAM 00422)

As duas edições da exposição foram comissariadas pelo historiador e curador de arte James Lingwood. O curador procedeu a uma revisão e readaptação das obras apresentadas em Madrid ao espaço do Centro de Arte Moderna da FCG.

Julião Sarmento tem, desde a década de 1970, feito um percurso singular em torno da representação da figura humana, particularmente da mulher. Nas palavras do crítico de arte Pedro Faro, a sua obra tem vindo a percorrer «um território ambíguo, geralmente associado ao desejo, à violência, à compulsividade e à sexualidade, utilizando e combinando diferentes suportes, como a fotografia, o vídeo, a instalação, a pintura e a gravura» (Faro, «Julião Sarmento», 2010).

Com a exposição, James Lingwood pretendeu analisar o percurso artístico de mais de 25 anos de Julião Sarmento, que, segundo Jorge Molder, é um percurso que se tem constituído de uma forma «assinalavelmente consistente e obsessiva a partir do que podemos designar genericamente por desejo» (Julião Sarmento. Flashback, 2000, p. 11).

Assim, o projeto integrou alguns dos primeiros trabalhos do artista, realizados em 1975 e 1976, até aos mais recentes, em filme e diapositivo, feitos em 1999. A maior proporção de obras apresentadas era relativa à produção da década de 1990. Dessa forma, a exposição reuniu vários grupos de trabalhos conhecidos como Pinturas Brancas, desenvolvidos por Julião Sarmento ao longo daqueles anos: por exemplo, Dias de Escuro e de Luz (de 1990), Emma (de 1991), Casanova (mostrados na Bienal de Veneza de 1997).

Em colaboração com o compositor e músico norte-americano Arto Lindsay (1953), Sarmento realizou uma obra de imagem e som, produzida propositadamente para a exposição: Flashback (80 diapositivos, 35 mm). A montagem de imagens propunha «uma espécie de autobiografia fragmentária, destinada a uma espécie de retrospectiva fragmentária» (Ibid., p. 15).

Das 120 obras que figuraram no projeto, duas delas pertenciam já ao acervo da Fundação: a pintura The Frozen Leopard (1992) e a escultura Amazónia (1992). No âmbito da mostra, a pintura An Involved Story (1998) foi incorporada na coleção moderna da FCG.

Segundo Alicia Chillida, a exposição era uma retrospetiva de Sarmento, na qual se explorava a sua obsessão pelos conceitos associados à memória e ao desejo, recorrentes ao longo dos vários anos de trabalho: «The show […] is a particular kind of retrospective that uses the model of film structure as a means of exploring and articulating Sarmento's obsessions. New bodies of paintings will continue the artist's concern with the discovering and uncovering of memory and desire, these new paintings will be a development of series shown in the 1997 Venice Biennale.» (Carta de Alicia Chillida para Jorge Molder, 7 mai. 1999, Arquivos Gulbenkian, CAM 00422)

O curador James Lingwood pensou a exposição em função da sua leitura da obra do artista: «O poder do olhar, o infinito trabalho de exibição e ocultação que constitui qualquer acto de ver, é uma preocupação incontornável da arte de Julião Sarmento.» Ao caracterizar a obra do artista como uma «cartografia do desejo», Lingwood considerou que a organização espacial da exposição não seria esclarecedora das preocupações e obsessões particulares do artista se apresentada de modo linear e cronológico (Julião Sarmento. Flashback, 2000, pp. 15-17).

Pelo contrário, o curador concebeu o percurso numa sequência ininterrupta, uma experiência circular, ou como o próprio escreveu, «um loop, um ciclo que vai girando sem conclusão». Sobre essa escolha, justificou ainda: «Não conjecturei outro procedimento senão o de um volume cíclico, circular. Um livro cuja última página fosse idêntica à primeira, com a possibilidade de continuar indefinidamente.» (Ibid., pp. 16-17)

Entrevistado por Delfim Sardo no contexto da exposição, Julião Sarmento esclarece precisamente o âmbito temporal da iniciativa: «Não pretende ser uma retrospectiva, mas é um olhar retrospectivo sobre o que actualmente faço, um piscar-de-olho ao passado, ou seja: o fulcro da exposição é o que desenvolvo desde 1990 – as chamadas “Pinturas Brancas”. De vez em quando há uma ou outra peça que se liga a estas obras mais recentes e as remete para as anteriores. […] há imagens compulsivas, temas que se retomam, viagens que se fazem, percursos que se renovam.» (Sardo, Arte Ibérica, out. 1999, p. 9)

As salas das Pinturas Brancas dos anos de 1990 eram enriquecidas por flashbacks de outros trabalhos isolados, dos meados das décadas de 1970 e 1980: trabalhos fotográficos, instalações com fotografias, filmes e colagens.

As associações entre as obras mais antigas e as mais recentes eram evidentes por si mesmas, como descrito por Lingwood: «O motivo de uma mulher que se debruça sobre uma mesa aparece pela primeira vez numa pintura de meados dos anos 80 quase como uma espécie de cartoon – voltando a aparecer mais de dez anos depois como uma figura de tamanho quase real num quadro de larga escala de 1998. As lambedelas, beijos e mordidelas das mulheres em Faces voltam a surgir em desenhos austeros e ambivalentes, bem como em pequenas pinturas, vinte anos mais tarde. As linhas de um corpo tornam-se os afluentes de um rio ou as formas antropomórficas de árvores.» (Julião Sarmento. Flashback, 2000, p. 17)

James Lingwood considerou «Julião Sarmento. Flashback» uma exposição «com muitas entradas, mas sem instruções, e as ligações entre os diferentes conjuntos de trabalhos – bem como aos sentidos que possam gerar – não podem ser predeterminadas» (Ibid., p. 17).

Com efeito, pretendeu-se sublinhar o jogo de contaminação entre os vários períodos criativos de Julião Sarmento: «Mas o mais interessante em “Flashback” é a luz que as obras mais antigas lançam sobre as mais recentes, num perpétuo jogo – sem regras mas com grande ambiguidade estética – entre passado e presente.» («Cartografia do desejo», Semanário, 3 mar. 2000).

Em 1997, numa entrevista que concedeu a Germano Celant, Julião Sarmento sublinhava precisamente o processo de contaminação e recuperação no seu trabalho: «Aquilo que faço hoje faz parte do que fiz ontem [...] e do que fiz há vinte anos, e do que farei amanhã.» (Julião Sarmento, Assírio & Alvim, 1997, p. 107).

Estabelecendo uma analogia entre um arqueólogo e o artista, James Lingwood assinalou: «Tal como não existe tabula rasa para o arqueólogo, não há tela em branco para Sarmento – já recebeu uma primeira demão de experiência e memória.» (Julião Sarmento. Flashback, 2000, p. 18)

Repetidamente, deparamo-nos com a forma de uma mulher ou com o fragmento de um corpo. Muitas vezes, a mulher está acompanhada – outras pessoas, um pormenor arquitetónico, flores ou um mapa. A figura quase nunca tem rosto e está quase sempre vestida. A sua situação e as suas ações são sempre ambivalentes, muitas vezes violentas. Nas palavras do curador: «[…] as linhas divisórias entre prazer e dor, compulsão e escolha tornam-se indistintas. Por vezes, faz alguma coisa, mas o mais habitual é que algo lhe seja feito. Os planos horizontais, janelas, portas e mesas sugerem que ela se encontra num interior. Este interior, delineado por Sarmento nas suas “pinturas brancas”, é um local escuro e desconfortável.» (Ibid., p. 18)

No texto que assinou para o catálogo da exposição, o crítico de arte Adrian Searle descreve o processo criativo de Sarmento da seguinte forma: «Sarmento opta por mostrar-nos apenas a superfície e o gesto, a direcção de um olhar e o esquema de um acto. […] Revela as ambiguidades e os equívocos das situações, a ambivalência da carnalidade.» (Julião Sarmento. Flashback, 2000, p. 95)

Sobre a técnica do artista, diz: «[…] o seu desenho é extremamente belo, um autêntico trabalho de desenhista, simplificado e reduzido aos elementos essenciais. É um desenho discreto, um desenho eficiente, um desenho tão deliberadamente inexpressivo que chega a ser transparente. […] Sarmento presta muita atenção à forma, ao perfil e à silhueta. Tanto a montagem como o corte e o enquadramento dentro do qual a acção decorre, são igualmente proeminentes. […] Mas nunca exagera, [o artista] nunca nos dá mais do que precisamos. O pouco que nos dá já é excessivo.» (Ibid.)

A exposição na FCG contou com a organização de várias visitas guiadas, conduzidas por Constança M. Seixas.

A pedido da Fundação Gulbenkian, o Laboratório de Criação Cinematográfica da Universidade Nova de Lisboa produziu um vídeo sobre o artista. A equipa do projeto foi constituída por Renata Sancho (realização), Susana Moutinho (assistente de realização), Maria João Soares (produtora) e Luís Correia (assistente de som). A equipa de filmagens do LABCC deslocou-se à Fundação para filmar as obras presentes no espaço da exposição, a sua montagem e o período de abertura ao público. As filmagens incluíram entrevistas ao artista e a outros profissionais do museu.

«Julião Sarmento. Flashback» foi igualmente pretexto para um documentário sobre a instalação de uma exposição no CAMJAP, promovido pela Universidade Lusófona de Lisboa, através dos alunos da licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura. A coordenação do projeto esteve a cargo Victor Manuel Esteves Flores e foi realizado por Maria Teresa Mendes. O documentário visou o registo vídeo exaustivo da realização da mostra: desde a chegada das obras ao museu, à conceção da exposição (caracterização, espaço, design, montagem), à edição do catálogo e divulgação, à inauguração e, por fim, à respetiva desmontagem e devolução das obras.

O Museo Nacional Reina Sofía foi responsável pela edição dos catálogos de ambas as exposições. Editado em duas versões (espanhol/inglês e português/inglês), o catálogo da exposição em Lisboa, coeditado pelo Centro de Arte Moderna, inclui textos de Jorge Molder, de James Lingwood, de Adrien Searle e de Alicia Chillida, a lista completa das obras apresentadas e reproduções e a biografia do artista. A monografia contém também um CD-ROM com a peça realizada por Sarmento e Arto Lindsay (1953).

Na crítica que dedicou à exposição, Bernardo Pinto de Almeida considerou o catálogo um «irrepreensível livro-catálogo, cuidadosamente preparado» (Almeida, Jornal de Notícias, 15 mai. 2000).

A exposição foi bastante concorrida, alcançando cerca de 15 169 visitantes. Na mesma medida, o acolhimento por parte da crítica especializada foi positivo, tendo sido possível reunir vários artigos dedicados ao trabalho do artista na sequência da exposição. A título exemplificativo, destacamos as impressões de alguns dos autores.

Rodrigues Vaz considerou que «a mostra antológica de Julião Sarmento que o Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian exibe […] consagra-o definitivamente não só como um caso de sucesso de carreira artística a nível nacional, mas também como um dos artistas portugueses de maior circulação internacional» (Vaz, Tempo Livre, mai. 2000, p. 58).

Bernardo Pinto de Almeida observa: «Visitando a exposição que agora se fez na Gulbenkian, percebe-se […] que a obra de Sarmento é guiada por um fio de coerência interna, temática e formal que, apesar dos que a subvalorizam, a torna indispensável na definição de um mapa actualizado da arte portuguesa das últimas décadas.» (Almeida, Jornal de Notícias, 15 mai. 2000)

Ruth Rosengarten destaca a organização das obras na exposição: «Em vez de encarar a obra de Julião Sarmento com um olhar de distância histórica, a exposição […] salienta aspectos de continuidade entre as várias áreas das suas obras menos conhecidas e do seu trabalho mais recente, excluindo a maior parte das pinturas dos anos 80.» (Rosengarten, Visão, 23 mar. 2000)

Por sua vez, Vera Ferreira aponta as várias extensões simbólicas do título «Flashback»: «O título da exposição Julião Sarmento não é inocente. Trata-se do Flashback de uma vida dedicada à arte, de uma obra artística com mais de um quarto de século, que soube surpreender, sem deixar de ser coerente. Como podemos constatar a partir de hoje, através da exposição […] [no CAMJAP].» (Ferreira, A Capital, 24 fev. 2000)

Por fim, e a título de curiosidade, quando entrevistado por Clara Ferreira Alves, à pergunta «O facto de teres exposto na Gulbenkian, tem importância para ti, depois do Reina Sofía?», Sarmento respondeu: «É agradável ser-se apreciado em casa. “You always want to please mamma.” E os meus pais, pela primeira vez, foram a uma exposição minha.» (Alves, Expresso, 20 mai. 2000)

Joana Brito, 2019

In 1999, at the initiative of Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, the exhibition “Flashback” by artist Julião Sarmento (1948) went on show in Palácio Velázquez in Madrid. The following year, efforts by the director of the Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão [José de Azeredo Perdigão Modern Art Centre], Jorge Molder, brought the exhibition to the Calouste Gulbenkian Foundation (FCG).

Alicia Chillida, curator of the Museo Reina Sofía and head of exhibition programming at Palácio Velázquez, expressed her enthusiasm the exhibition being staged in Portugal in a letter to Jorge Molder: “We have known through Julião [Sarmento] about your interest in this project, the Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia would be delighted to include the Gulbenkian Foundation in the touring of the exhibition.” (Letter from Alicia Chillida to Jorge Molder, 7 May 1999, Gulbenkian Archives, CAM 00422)

In addition to an interest in the exhibition, she also emphasised the cooperation between the two museums: “The Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía is very happy to cooperate with the Gulbenkian Foundation on this exhibition’s tour and hopes there will be more opportunities for collaboration between the two institutions in the future.” (Letter from Alicia Chillida to Jorge Molder, 22 Dec 1999, Gulbenkian Archives, CAM 00422)

Both showings of the exhibition were curated by historian and art curator James Lingwood. The curator reviewed and adapted the works exhibited in Madrid to fit the space available within the FCG Modern Art Centre.

Since the 1970s, Julião Sarmento has forged a unique path, focused on portraying the human form, in particular women. In the words of art critic Pedro Faro, his work has come to occupy “an ambiguous territory, generally associated with desire, violence, compulsion and sexuality, using and combining various media, such as photography, video, installation, painting and etching” (Faro, «Julião Sarmento», 2010).

With this exhibition, James Lingwood aimed to examine the artistic career of Julião Sarmento, spanning over 25 years, a career founded, according to Jorge Molder, on a “remarkably consistent and obsessive focus on what can, in general terms, be termed desire” (Julião Sarmento. Flashback, 2000, p. 11).

As such, the exhibition ranged from pieces from the artist’s earliest period, produced in 1975 and 1976, to his most recent films and slides, produced in 1999. The majority of works exhibited dated from the 1990s. The exhibition therefore brought together various series of works known as Pinturas Brancas, or “white paintings”, produced by Julião Sarmento over the course of that decade, for instance: Dias de Escuro e de Luz (1990), Emma (1991), Casanova (exhibited at the 1997 Venice Biennale).

In collaboration with US composer and musician Arto Lindsay (1953), Sarmento produced an audio-visual piece specially for the exhibition: Flashback (80 slides, 35 mm). The arrangement of images offered “a fragmentary kind of autobiography, destined for a fragmentary kind of retrospective” (Ibid., p. 15).

Of the 120 pieces on display, two belonged to the archives of the Foundation: the painting The Frozen Leopard (1992) and the sculpture Amazónia (1992). To coincide with the exhibition, the painting An Involved Story (1998) was added to the FCG’s Central Department modern collection.

According to Alicia Chillida, the exhibition was a Sarmento retrospective, exploring his obsession with concepts associated with memory and desire, recurring themes in his long career: “The show […] is a particular kind of retrospective that uses the model of film structure as a means of exploring and articulating Sarmento's obsessions. New bodies of paintings will continue the artist's concern with the discovering and uncovering of memory and desire, these new paintings will be a development of series shown in the 1997 Venice Biennale.” (Letter from Alicia Chillida to Jorge Molder, 7 May 1999, Gulbenkian Archives, CAM 00422)

The curator James Lingwood designed the exhibition based on his interpretation of the artist’s work: “the power of the gaze, the infinite work of showing and concealing contained in any act of seeing, is an inescapable concern in the art of Julião Sarmento.” Characterising the artist’s works as a “cartography of desire”, Lingwood believed that a linear, chronological exhibition layout would not adequately reflect the artist’s interests and obsessions” (Julião Sarmento. Flashback, 2000, pp. 15-17).

On the contrary, the curator envisaged the exhibition layout as an uninterrupted sequence, a circular experience, or, in his own words, “a loop, a cycle that keeps turning without end”. He further justified this decision by saying: “I couldn’t imagine any option other than a cyclical, circular space. A book whose last page is identical to its first, giving the possibility to continue indefinitely.” (Ibid., pp. 16-17)

Interviewed by Delfim Sardo about the exhibition, Julião Sarmento clarifies the temporal scope of the project: “It is not intended to be a retrospective, but it is a look back on what I am doing now, a glimpse of the past. In other words, the heart of the exhibition is work I have been producing since 1990 – the so-called “Pinturas Brancas” (“White Paintings”). From time to time, there is a piece that links these to more recent works or relates them back to something that came before. […] there are compulsive images, themes that recur, journeys that are taken, paths that are renewed.” (Sardo, Arte Ibérica, Oct 1999, p. 9)

The rooms containing the Pinturas Brancas from the 1990s were enhanced by flashbacks to other isolated works from the mid-1970s and 1980s: photographic works and installations featuring photography, film and collage.

The links between the older pieces and the more recent works were self-evident, as Lingwood explains: “The motif of a woman bending over a table appears for the first time in a painting from the mid-1980s, as a kind of cartoon – reappearing over ten years later as an almost life size figure in a large-scale painting dating from 1998. The licks, kisses and nibbles of the women in Faces appear again twenty years later in austere and ambivalent drawings and small paintings. The lines of a body become the flow of a river or the anthropomorphic forms of trees.” (Julião Sarmento. Flashback, 2000, p. 17)

James Lingwood considered “Julião Sarmento. Flashback” an exhibition “with many ways in, but no instructions, in which the connections between the different bodies of work – and the feelings they evoke – cannot be predetermined” (Ibid., p. 17).

He sought to underscore the cross-pollination between the various creative periods in Julião Sarmento’s career: “But what is most interesting about “Flashback” is the light that the older pieces shed on the more recent ones, the constant interplay – without rules but with great aesthetic ambiguity – between past and present.” (“Cartografia do desejo”, Semanário, 3 Mar 2000).

In 1997, in an interview with Germano Celant, Julião Sarmento underlined this very same process of cross-pollination and reuse in his work: “What I do today forms part of what I did yesterday [...] and what I did twenty years ago, and what I will do tomorrow.” (Julião Sarmento, Assírio & Alvim, 1997, p. 107).

Drawing parallels between the archaeologist and the artist, James Lingwood explained that, “Just as there is no tabula rasa for an archaeologist, there is no blank canvas for Sarmento – it has already received an undercoat of experience and memory.” (Julião Sarmento. Flashback, 2000, p. 18)

We repeatedly encounter a woman’s form or a fragment of a body. In many cases, the woman is accompanied – by other people, an architectural detail, flowers or a map. The figure almost never has a face and is almost always dressed. Her surroundings and actions are always ambivalent, often violent. In the words of the curator: “[…] the dividing lines between pleasure and pain, compulsion and choice, become blurred. Sometimes, she is doing something, but more often than not, something is being done to her. The horizontal planes – windows, doors and tables – suggest that she is indoors. This interior, sketched out by Sarmento in his “white paintings”, is a dark, discomforting place.” (Ibid., p. 18)

In a piece written for the exhibition catalogue, art critic Adrian Searle describes Sarmento’s creative process in the following way: “Sarmento opts only to show us the surface and the gesture, the direction of a gaze and the outline of an act. […] He reveals the ambiguities and misinterpretations of situations, the ambivalence of carnality.” (Julião Sarmento. Flashback, 2000, p. 95)

Of the artist’s technique, he says: “[…] his drawings are incredibly beautiful, the work of a genuine draftsman, simplified and stripped back to the essentials. It is subtle, efficient drawing, drawing so deliberately inexpressive as to become transparent […] Sarmento pays great attention to form, profile and silhouette. The editing, cutting and the setting in which the action takes out are just as prominent. […] But he [the artist] never oversteps the mark, he never gives us more than we need. The little he does give us is more than enough.” (Ibid.)

The exhibition was accompanied by a series of guided tours, led by Constança M. Seixas.

At the request of the Gulbenkian Foundation, Universidade Nova de Lisboa’s Laboratory of Cinematographic Creation (LabCC) produced a film about the artist. The project team consisted of Renata Sancho (director), Susana Moutinho (assistant director), Maria João Soares (producer) and Luís Correia (sound assistant). The film crew from LabCC visited the Foundation to film the works in situ in the exhibition space, their hanging, and the period when they were on public display. The film included interviews with the artist and professionals from the museum.

“Julião Sarmento. Flashback” was also chosen to feature in a documentary on the setting up of an exhibition at the CAMJAP, a project by undergraduate Communication Sciences and Culture students from Universidade Lusófona de Lisboa. The project was coordinated by Victor Manuel Esteves Flores and directed by Maria Teresa Mendes. The documentary aimed to create a comprehensive video record of the production of an exhibition: from the arrival of the artwork at the museum to the planning of the exhibition (concept, space, design, hanging), the production and distribution of the catalogue, the opening and, finally, its disassembly and the return of the artwork.

The Museo Nacional Reina Sofía was responsible for producing the catalogues for both exhibitions, in two versions (Spanish/English and Portuguese/English). The catalogue for the Lisbon exhibition, co-edited by the Centro de Arte Moderna [Modern Art Centre], included essays by James Lingwood, Adrien Searle and Alicia Chillida, a full list of the works displayed with reproductions and a biography of the artist. The volume also contains a CD-ROM of the piece produced by Sarmento and Arto Lindsay (1953).

In his review of the exhibition, Bernardo Pinto de Almeida deemed the catalogue to be a “faultless, meticulously prepared book/catalogue” (Almeida, Jornal de Notícias, 15 May 2000).

The exhibition proved popular, welcoming around 15,169 visitors. The critical reception was similarly positive, and various articles on the artist’s work appeared in the wake of the exhibition, as illustrated by the small selection of authors quoted below.

Rodrigues Vaz believed that “the anthological Julião Sarmento exhibition on display at the Modern Art Centre and the Gulbenkian Foundation […] cements his status not only as a success on the national level, but also as one of the highest-profile Portuguese artists internationally” (Vaz, Tempo Livre, May 2000, p. 58).

Bernardo Pinto de Almeida notes: “Upon visiting the exhibition currently on show at the Gulbenkian, it becomes apparent […] that the work of Sarmento is guided by an internal thematic and stylistic coherence which, despite his detractors, renders his inclusion in any up-to-date map of Portuguese art in recent decades essential.” (Almeida, Jornal de Notícias, 15 May 2000)

Ruth Rosengarten praises the way the works are arranged in the exhibition: “Rather than regarding the works of Julião Sarmento from a position of historical distance, the exhibition […] foregrounds elements of continuity between various lesser-known areas of his work and his more recent output, excluding most of his 1980s paintings.” (Rosengarten, Visão, 23 Mar 2000)

In turn, Vera Ferreira highlights the symbolic implications of the title “Flashback”: “The title of the exhibition by Julião Sarmento is not innocent. It is a Flashback to a life dedicated to art, a body of work spanning over a quarter of a century, always consistent but still capable of surprising. As we can see today, in this exhibition […] [in the CAMJAP].” (Ferreira, A Capital, 24 Feb 2000)

When asked out of curiosity in an interview with Clara Ferreira Alves, “Does it matter to you that your exhibition was shown in the Gulbenkian after the Reina Sofía?”, Sarmento answered: “It’s nice to get recognition at home. ‘You always want to please mamma.’ And for the first time ever, my parents came to one of my exhibitions.” (Alves, Expresso, 20 May 2000)


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Amazônia

Julião Sarmento (1948-2021)

Amazônia, Inv. 92E1284

An Involved Story

Julião Sarmento (1948-2021)

An Involved Story, Inv. 00P1033

The Frozen Leopard

Julião Sarmento (1948-2021)

The Frozen Leopard, Inv. 93P306

An Involved Story

Julião Sarmento (1948-2021)

An Involved Story, Inv. 00P1033


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Flashback. Julião Sarmento]

11 mar 2000 – 6 mai 2000
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Galeria Piso 01
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Julião Sarmento (à esq.), Catarina Vaz Pinto e Manuel Maria Carrilho (ao centro) e Victor Sá Machado (à dir.)
Manuel Maria Carrilho e Julião Sarmento (ao centro)
Manuel Maria Carrilho

Multimédia


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00421

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém pedidos de empréstimos e seguros das obras; pedido de filmagens do LABCC; tradução dos textos de catálogo e convite da exposição. 1999 – 2001

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00422

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência oficial, orçamentos da exposição e textos do catálogo. 1999 – 2001

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00423

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência oficial, orçamentos da exposição, textos do catálogo e pedidos de empréstimo de obras. 1999 – 2001

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 108918

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2000

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 133743

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2000


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