Viagens aos confins de um sítio onde nunca estive

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Documentário, com realização de João Mário Grilo, a pretexto da exposição «O Peso do Paraíso». O filme inicia-se com alguns planos de obras instaladas no interior do CAM e no exterior (no Jardim Gulbenkian) e vai desenrolar-se em articulação com um depoimento de Rui Chafes, cobrindo os vários espaços expositivos e incluindo passagens que mostram a interação do público com as obras.

Em voz-off, o artista começa por dizer: «Penso que o espaço da galeria e do museu são como clínicas ou como hospitais para uma arte doente.»

Refletindo sobre o lugar da arte antes do século XX e antes do Modernismo – quando «a arte ocupava o sítio onde fazia sentido para as pessoas, nomeadamente dentro das igrejas, […] e fazia parte das suas vidas, não estava separada» –, Rui Chafes duvida da validade do modelo contemporâneo de exposição, que considera assético, «como as clínicas e os hospitais», questionando essa espécie de «perfeição para ver arte […], a perfeição dos espaços especializados». Em alternativa, defende que se «deveria tentar trazer a arte para os locais onde a arte faz sentido para as pessoas», e explica que nas suas exposições tenta criar «uma aproximação ao espaço de uma igreja», para recuperar a relação com as pessoas e evitar a «indiferença». Procura assim «que as esculturas criem o seu espaço, o seu território individual». Esta conceção, mais do que procurar a sacralização da arte, visa, segundo o artista, ir «ao encontro das pessoas», permitindo-lhes «ter uma visão para uma outra dimensão».

Uma passagem pela obra Burning in a Forbidden Sea (2011), que coexiste com a instalação sonora Filling Egg Shells (2011), de Olga Barry, antecede novos depoimentos do artista, mostrado a trabalhar no seu ateliê. Rui Chafes afirma: «Eu acredito no indivíduo, mas, em termos de trabalho artístico, não acredito no investimento individual.» O artista dá sentido a esta premissa com uma narrativa: «Existe sempre um escultor que está a executar uma escultura […], mas essa mesma escultura também está a ser feita há centenas… há milhares de anos por escultores que vão atravessando o tempo.» Ao mesmo tempo que valoriza o trabalho fabril, Chafes relativiza a importância da expressão individual do artista, integrando a sua ação num contínuo de trabalho que entende o escultor como «aquele que leva a chama da escultura mais à frente».

O filme prossegue com vários aspetos de obras, demorando-se na parede perfurada através da qual se podia ver o filme de Pedro Costa.

A exposição não foi uma retrospetiva, visto que não obedeceu a uma sequência cronológica, mas antes a sequências visuais – explica Rui Chafes, que refere também os encontros inesperados proporcionados pelas obras espalhadas pelo Jardim.

No final, o filme encerra com um excerto de O Perfume das Buganvílias, de Rui Chafes, onde se lê: «O artista, no seu movimento para o Ideal perturba a estabilidade de uma sociedade. A sociedade aspira à estabilidade, o artista aspira ao infinito. É essa a responsabilidade do artista e o sacrifício espiritual que lhe é exigido.»

Realização
João Mário Grilo
Produção
Fernando Centeio
Edição
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2014
Duração
23 min 55 s
Participante(s)
Miguel Horta
Proveniência
Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 231811
Direitos
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