«[…] António da Costa, nas primeiras pinturas que teve a público, e onde são de salientar – como na “Miragem atlântica” e no “Poente imaginário” – uma extraordinária supervisão, uma abundância de pormenores bem cuidados no traço e na côr, uma ebulição de matéria plástica na rebusca de novas fórmulas e novos estilos pitorescos. […] […]

Teixeira, Luís, Artes plásticas. Exposição Pamela Boden, Antonio da Costa e Antonio Pedro. Na Galeria «Rep». Diário de Notícias, Lisboa, 13 nov 1940, p. 4

«António Dacosta e António Pedro cultivam o sobrerrealismo: agrupamentos caóticos de coisas mutiladas e desconexas em desenho e colorido arbitrários, amálgama de pés e mãos sem cabeça, de cabeças sem tronco nem pés, de árvores com braços humanos, de mãos com olhos e chapéu. São imagens anárquicas de pesadelo ou de alucinação, impossíveis de traduzir […]

Pamplona, Fernando de, Belas artes. Malas artes. Pintura de Wanda Ostrowska. Trabalhos de Pamela Boden, António Dacosta e António Pedro. Diário da Manhã, Lisboa, 18 nov 1940, p. 4

«De mais a mais há que pensar em Bosch: não influência de escolha, mas influência de instinto – o homem a debater-se, a lutar contra as tentações diabólicas, de monstros imprevistos, “a antítese da calma”, a sedução do “heresiarca”, o “canto hondo” da nudez magra e triste, atormentada e odiosa… Há que pensar em Bosch […]

Faria, Dutra, Em que se fala de três artistas. Pamela, António Pedro, Dacosta. Novidades, Supl. «Letras e Artes», Lisboa, 17 nov 1940, p. 4

«Falta-nos ainda António Dacosta, pintor tentacular, segmentário, dum colorido bizantino, com infra vermelhos, e radiografias intelectuais, algumas de sinistro pavor. Compreendemos, perfeitamente, o “Herisiarca”, mas menos a “Sonolência desfeita”, em que o autor decompôs as larvas dum subconsciente. A “Serenata Açoreana” é mais clara, e tem visualidade fácil. Acertamos?» (PORTELA, 1940, p. 3)

Portela, Artur, Vida artística. Dois pintores e um escultor expõem em conjunto. Diário de Lisboa, Lisboa, 14 nov 1940, p. 3

«A sua “Festa” é um passo a assinalar na sua conquista duma forma leve, pessoal e livre, ainda que sejam evidentes movimentos inúteis dos seus pincéis. Além desta insegurança da factura, o tema é dum lirismo tão fácil que quási o repelimos. Aquêle cornúpeto florido é duma galantaria bem fútil.» (GUSMÃO, 1943, p. 157)

Gusmão, Adriano de, No SPN. 7ª exposição de arte moderna. Seara Nova, n.º 806, Lisboa, 23 jan 1943, pp. 157-158

«António Dacosta, prémio Sousa Cardoso do ano findo, tem apenas uma “Pintura”, onde confessa a sua inquietação, e independência perante as formas canónicas. A sua pintura vai-se aproximando de si mesmo, tornando-se, pois, o artista menos fiel a modelos estranhos. Este seu quadro, parece-nos, é mais um passo na sua própria descoberta. Esta a sua […]

Gusmão, Adriano de, Artes Plásticas. No SPN. 8ª exposição de arte moderna. Seara Nova, n.º 858, Lisboa, 22 jan 1944, pp. 31-32

«Sim, os dois quadros que Dacosta enviou a êste Salão, “Mulher com um cão” e “Par”, acusam por demais a presença de Cícero Dias nessas obras, tanto mais que os tipos de “Par” são mesmo brasileiros na figuração. Aqui nos parece que Dacosta devia ter procurado, pelo menos, transmitir uma feição nacional, embora numa sugestão […]

Gusmão, Adriano de, Artes plásticas. 9ª exposição de arte moderna. Seara Nova, n.º 912, Lisboa, 03 fev 1945, pp. 83-85

«E, de facto, a tela “Festa”, com um carneirinho branco e dois meninos rechonchudos à laia de Cupidinhos, parece representar já uma fase ultrapassada na obra de António Dacosta, pois se pode quase aceitar como um motivo decorativo, sem nada de misterioso ou perturbante. Nas suas novas obras, como “Cena com um pêndulo”, vinca-se o […]

Pamplona, Fernando de, Belas artes. Malas artes. O decorativismo na arte de Pedro Leitão. O cosmopolitismo de António Dacosta. Diário da Manhã, Lisboa, 22 abr 1952, p. 3

Dacosta est un mélancolique, un homme insulaire obsédé par la distance, franchissable seulement par l’écho. Sa rencontre avec Chirico ne fut pas fortuite. La dimension spatiale de ses tableaux est seulement en apparence révélée par un horizon lointain, mais en réalité par l’interrogation des personnages à eux-mêmes et entre eux, par le silence des questions […]

AA.VV, Quelques Notes sur la Peinture et la Sculpture en Portugal depuis le Naturalisme. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1967

«“Amor Jacente” é, dir-se-ia, uma das cenas finais desse drama da Vida e do Homem que Dacosta vinha representando nos seus quadros. Sobre uma espécie de palco agrupam-se algumas figuras, personagens doutras cenas que já tivemos ocasião de referir. A bela mulher estendida, de longos cabelos louros, como um símbolo da Virtude, tem na sua […]

Bronze, Francisco, Um surrealista em retrospectiva. Diário de Lisboa, Supl. «Suplemento Literário», Lisboa, 16 jan 1969, pp. 3-6

«“Serenata Açoriana”. Aqui o drama mítico de Adão e Eva parece reviver-se na expiação da sua culpa, expulsos de há muito do Paraíso, e adicionando crime sobre crime na sua necessidade de sobrevivência. Mas essa ave morta que o homem depõe aos pés da mulher caída por terra, numa postura dolorosa de miserável servidão, tanto […]

Bronze, Francisco, Um surrealista em retrospectiva. Diário de Lisboa, Supl. «Suplemento Literário», Lisboa, 16 jan 1969, pp. 3-6

«[…] Até pelo simples título da tela podemos sem esforço chegar à ideia de teatro que informa toda a arte de António Dacosta. Mas também a ordenação das figuras no espaço é feita numa disposição cénica, agrupadas muitas vezes numa espécie de palco ou tablado, e afrontando-se num conflito que dramaticamente se define. Na evidência […]

Bronze, Francisco, António Dacosta em retrospectiva. Colóquio, n.º 52, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, fev 1969, pp. 33-38

«A pintura de Dacosta tem uma profunda autenticidade dentro de um automatismo plástico ou pictórico, e apresenta-se quase sempre, com uma realização de formas, desenho e cores à margem da sua vontade consciente, onde o imaginativa predominante está no movimento das coisas e em diversos tipos da dicotomia de espaço, como em “Melancolia”. É nessa […]

Oliveira, Mário de, O surrealismo de António Dacosta. Diário de Notícias, Supl. «Artes e Letras», Lisboa, 23 jan 1969, p. 1, 2

«De crime, ainda, e da consequente culpa, nos falará o quadro “Um Cão e Outras Coisas”. E, perante o drama de violência, a Natureza (o cão enrolado sobre si, dormindo ou cismando) conserva-se imóvel, indiferente, enquanto o Tempo flui, inexorável (a água que jorra da fonte), numa permanência de sentido… ou de absurdo.» (BRONZE, 1969, […]

Bronze, Francisco, Um surrealista em retrospectiva. Diário de Lisboa, Supl. «Suplemento Literário», Lisboa, 16 jan 1969, pp. 3-6

«Em “Diálogos”, a cena que se nos apresenta é já a de um drama escatológico, como se tivesse soado sobre a Terra a hora do Juízo Final, e todos os seres da criação se congregassem para lançar ao rosto do homem a pesada culpa dos seus crimes. São os cães esventrados, todos os animais escorraçados […]

Bronze, Francisco, Um surrealista em retrospectiva. Diário de Lisboa, Supl. «Suplemento Literário», Lisboa, 16 jan 1969, pp. 3-6

«Mas em “Antítese do Repouso” os problemas visam uma realidade mais concretamente situada. A referência à guerra é aqui evidente no homem estendido como quem repousa, mas que segura uma granada na mão. Perto dele, uma serpente com a cauda truncada. O braço esquerdo do homem parece enlaçar um touro, o qual tem as patas […]

Bronze, Francisco, Um surrealista em retrospectiva. Diário de Lisboa, Supl. «Suplemento Literário», Lisboa, 16 jan 1969, pp. 3-6