Peter Evans livre das amarras do jazz na Gulbenkian

05 ago 2016

O DN falou com o trompetista norte-americano que amanhã volta ao festival Jazz em Agosto com o trio Pulverize the Sound

Foi há já sete anos que Peter Evans pisou pela primeira vez o palco do Anfiteatro ao Ar Livre da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, na altura liderando o seu quarteto, concerto que viria a ser editado em CD pela portuguesa Clean Feed. Logo nesse concerto (e também no solo que deu nessa edição do Jazz em Agosto) pôde-se comprovar a complexa visão musical do trompetista, não só pela sua habilidade técnica mas também pelas muitas e ricas ideias que explorou. Desde então já voltou ao festival (e a outros palcos do país) com alguma regularidade e este sábado prepara-se para surpreender uma vez mais com um trio que não olha a espartilhos musicais: os Pulverize the Sound.

No mesmo ano em que tocou pela primeira vez no festival da Fundação Gulbenkian, Evans também formou, já do outro lado do Atlântico, em Nova Iorque, estes Pulverize the Sound, com Tim Dahl (no baixo elétrico) e Mike Pride (na bateria, percussão e glockenspiel). “Tocávamos reguIarmente num pequeno grupo de clubes em Brooklyn, nomeadamente o Death by Audio e o Zebulon. Depois de nos ouvirmos uns aos outros pensámos que seria interessante tocarmos. A ligação pessoal e social já existia antes ainda de termos uma ideia de que tipo de música iríamos tocar. Nos primeiros anos compusemos e tocámos uma série de ideias e de géneros de composição, desde peças musicais muito livres a outras muito elaboradas na escrita. Nos últimos anos acho que assentámos entre estes dois mundos”, refere o trompetista ao DN.

A música destes Pulverize the Sound é verdadeiramente livre de amarras estilísticas, tanto indo à livre improvisação como ao avant-garde, passando pelo noise, pós- punk ou, claro, jazz. Todavia, nenhuma destas gavetas é grande o suficiente para descrever perfeitamente a música do trio e o próprio Peter Evans confessa querer libertar-se dessas fronteiras. “Acho que falo por nós os três, assim como pela maioria dos músicos com que trabalhamos, ao dizer que essas descrições de estilos quase não têm aplicação ou validade relacionadas com a música que fazemos. A palavra ‘jazz’ tem sido controversa ao longo de muitas décadas, com alguns dos principais progenitores da música (Duke, Coltrane, Miles) a renegarem-na completamente.

 
Percebo que na Europa se tomou um termo genérico para descrever música que é improvisada ou que tem como base um certo tipo de instrumentação. A palavra é também muitas vezes utilizada para apagar especificamente as suas origens negro-americanas, sendo esta outra das razões para negá-la. Mas qualquer que seja o caso, termos estilísticos não são interessantes para nós.” Apesar de tocarem juntos desde 2009, só no ano passado os Pulverize the Sound lançaram o seu primeiro álbum, um disco pesado, negro, com um espírito caracteristicamente urgente. “Ensaiámos a música que está no nosso álbum durante horas intermináveis”, conta Peter Evans. Um processo de execução rigoroso e que acabou por influenciar de forma determinante a abordagem deste trio. “Acho que o processo de fazer um disco como este mudou o nosso foco à medida que evoluímos enquanto banda. Se por um lado ainda ensaiamos bastante as peças, o foco de atenção está mais na síntese de elementos fixos e improvisados, movendo-nos pelas composições de forma fluida, em vez de executarmos de forma altamente rigorosa certas partes”, explica.

Amanhã será a primeira vez que Peter Evans atuará com os Pulverize the Sound no Jazz em Agosto, festival que lhe tem permitido estrear projetos. “A oportunidade que tive em 2013 de trazer a minha banda de oito elementos foi um dos momentos mais altos da minha vida musical, foi um sonho tomado realidade”, lembra.

 

DN – 05 Agosto 2016

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