Gulbenkian, o grande palco para viver o jazz na sua forma mais livre

03 ago 2016

De amanhã até ao dia 14, a diversidade é a matriz de mais uma grande edição que a fundação acolhe no mês de agosto.

14 concertos, três filmes e três conferências em menos de duas semanas. Amanhã arranca no Anfiteatro Ao Ar Livre da Fundação Gulbenkian, em Lisboa, a 33ª edição do Jazz em Agosto, festival que este ano se junta às comemorações do 60º aniversário da fundação com um dos mais extensos programas da sua história. A diversidade volta a ser matriz da programação. Basta ver que este ano o festival arranca com o norte-americano Marc Ribot e os seus TheYoung Philadelphians (num concerto único em parceria como Lisbon String Trio) e termina no dia 14 com o norueguês Paal Nilssen-Love e o seu Large Unit.

Marc Ribot e Paal Nilssen-Love, que também vão dar, cada um, concertos a solo, nos dias 5 e 13 de agosto, respetivamente, representam e simbolizam faces bem diferentes do jazz. “A diversidade sempre caracterizou o Jazz em Agosto, atento desde o seu início nos anos 1980, às variadas direções do jazz, tanto dos EUA como da Europa, onde se situam os epicentros mais criativos do jau. É precisamente o que reconhecemos em músicos como o americano Marc Ribot e o norueguês Paal Nilssen-Love, essas acentuadas diferenças e atitudes numa música como o jazz que não mais pode ficar circunscrita à linguagem original que criou, tal como a vida que se vai continuamente transformando”, refere ao DN Rui Neves, diretor artístico do festival.

Marc Ribot vai inaugurar esta 33.a edição do Jazz em Agosto, sendo um nome que já faz parte da história do festival. Desta vez apresenta-se como projeto The Young Philadephians (reformulação de um projeto fundado em 2008 e que conta com um novo guitarrista, Chris Cochrane), que vão atuar com três músicos portugueses, o The Lisbon String Trio, convidados para o efeito e que colaboram com a Orquestra Gulbenkian.

 
Para Rui Neves é “de facto uma prioridade dar a conhecer ao nosso público projetos inéditos ainda não divulgados em Portugal”. Quanto a este projeto salienta: “Marc Ribot sentiu uma necessidade de adicionar um trio de cordas. Isso acontece pelo facto de, nos grupos originais da soul de Filadélfia, o Philly Soul, uma das inspirações cio projeto, além da Prime-Time Band de Ornette Coleman, existir um naipe de cordas que parafraseava os riffs desse tipo de música.”

Este ano o Jazz em Agosto receberá ainda a estreia de outro projeto, encomendado pelo festival. É o caso dos Tuba and Drums Double Duo, que junta o tubista português Sérgio Carolino ao britânico Oren Marshall. Carolino é um entre os vários músicos portugueses nomeados por Rui Neves que têm frequentado “com êxito circuitos internacionais sustentando relações extra fronteiras”. “Nomeio intencionalmente estes músicos porque considero fundamental essa expansão geográfica para o progresso dos músicos de jazz portugueses e ela tem sido incrementada de forma natural”, acrescenta.

De resto, o mesmo acontece com Gonçalo Almeida e João Lobo, que vão atuar no festival com o grupo luso italiano Tetterapadequ (dia 8, às 21.30), bem como o RED Trio, o trompetista Luís Vicente, o baterista Mário Costa, o saxofonista Rodrigo Amado, o guitarrista Luis Lopes, o contrabaixista Hugo Antunes ou a trompetista Susana Santos Silva.

 
Quando o programa do Jazz em Agosto foi apresentado em abril deste ano, Rui Neves salientou ainda os concertos de “dois trios radicais”, nomeadamente os Pulverize the Sound (onde figura Peter Evans) e os Unnatural Ways de Ava Mendoza. O programador esclarece o porquê do destaque: “Entenda-se esse radicalismo num sentido estético libertador que procura soluções alternativas e criativas como é o caso destes dois trios, algo que tem estado sempre presente nas sucessivas edições do Jazz em Agosto. Torna-se importante apresentá-los ao público pois são músicos inquietos que procuram constantemente novas fórmulas, assumindo riscos.”

 

O cinema também tem uma presença acentuada este ano. Na Sala Polivalente do CAM vão ser exibidos três documentários, e os concertos de Marc Ribot (a solo, na sexta-feira) e dos Petite Moutarde serão acompanhados com projeção de filmes.

“De há uns anos a esta parte o Jazz em Agosto tem incluído filmes nas suas programações porque esse tipo de oferta aumentou substancialmente na nova era digital.
São filmes que têm íntima relação com os artistas programados ou que fazem mesmo parte da sua proposta”, esclarece Rui Neves, que acrescenta: “0 cinema, a partir do momento em que deixou de ser mudo, teve sempre uma relação íntima com a música e é também natural que o inverso aconteça, que os músicos sintam essa atração pelo cinema.”

João Moço

 

 

Documentários e concertos cúmplices em Lisboa Música

A partir de amanhã, o Jazz em Agosto volta a incluir o cinema, com três documentários e dois concertos que integram filmes Cumprindo a tradição, a 33.a edição do Jazz em Agosto (Fundação Gulbenkian, dias 4 a 14) volta a ter um setor específico dedicado ao cinema. É o resultado de uma estratégia de diversificação que Rui Neves, diretor artístico do evento, equaciona a partir das novas formas de produção de documentários e do papel das televisões: “Assiste-se mesmo a uma proliferação, até porque se tornaram comuns métodos de crowdfunding e um interesse público redobrado. O papel das televisões não deixa de ser importante porque os encomendam, assumindo os seus custos. Considero que em Portugal foi importante o documentário A Tensão Jazz, apresentado na RTP2 em 2011, sobre o jazz feito no nosso país, realizado por Paulo Seabra com o guião histórico da minha autoria.”

Três filmes da RogueArt, editora convidada desta edição, serão projetados na Sala Polivalente (sucessivamente nos dias 10, 11 e 12, sempre às 18.30): Off the Road e Chicago Improvisations, ambos de Laurence Petit-Jouvet, e Electric Ascension Live at Guelph Festival 2012, de John Rogers.

Os dois documentários de Laurence Petit-Jouvet celebram o contrabaixista alemão Peter Kowald (1944-2002): o primeiro num espirito que evoca o livro On the Road, de Jack Kerouac, segue a sua digressão norte-americana de 2000, pontuada por encontros com outros músicos; o segundo regista uma dupla atuação no Empty Bottle Festival of Jazz & Umprovised Music, também em 2000. Quanto ao filme de John Rogers, o seu foco está na celebração de John Coltrane, através de um concerto realizado num festival canadiano pelo projeto Electric Ascension, integrando o Rova Saxophone Quartet.

São documentários que estabelecem relações com a memória do próprio evento. Rui Neves lembra que “a razão da apresentação destes filmes fundamenta-se na presença de Peter Kowald no Jazz em Agosto 2002, com Fred Anderson e Hamid Drake, e de Electric Ascension na edição de 2006, celebrando Coltrane, nascido em 1926, fazendo sentido voltar a celebrá-lo este ano quando se completam 90 anos do seu nascimento”.

Há ainda dois concertos que integrarão materiais cinematográficos. Assim, o guitarrista Marc Ribot terá uma performance a solo (Sala Polivalente, dia 5,18.30), com projeção de Shadows Choose Their Horrors, filme experimental assinado por Jennifer Reeves, cineasta nova-iorquina nascida no Sri Lanka. Por sua vez, o coletivo Petite Moutarde (Anfiteatro ao Ar Livre, dia 9, 21.30) convoca imagens de filmes de René Clair, Marcel Duchamp e Man Ray.

Os filmes, como sempre, procuram desenhar linhas de cumplicidade com os concertos.
Mas, como sublinha Rui Neves, “não se trata de todo de fazer um ponto da situação global do documentário sobre jazz”. Assistimos, afinal, a uma profunda mudança de contexto: “O que felizmente acontece nos últimos anos é publicarem-se mais documentários devido aos desenvolvimentos observados na nova era digital em matéria de novas máquinas, novos processos de pós-produção e, naturalmente, de novos agentes, conquistando novos públicos.”

João Lopes

 

DN – 03 Agosto 2016

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