Gidon Kremer & Kremerata Baltica

02 mai 2017

Rodeado pelos 23 instrumentistas do agrupamento que fundou há duas décadas com jovens músicos da Letónia, Lituânia e Estónia, o violinista Gidon Kremer está a celebrar os seus 70 anos com a digressão mundial de 2017. Quando Kremer nasceu, a Letó- nia era uma das repúblicas soviéticas. Aos 4 anos começou a estudar violino com o avô e com o pai e, mais tarde, foi aluno de David Oistrakh no Conservatório de Moscovo. Como membro honorário do ‘Clube Budapeste’, onde ombreia com figuras como Dalai Lama, Zubin Metha, Peter Gabriel e Muhammad Yunnus, Kremer pratica uma filosofia baseada na constatação de que os enormes desafios colocados à Humanidade só podem ser ultrapassados pelo desenvolvimento de uma consciência cultural global, sendo uma missão prioritária a de se assumir ativamente como um catalisador para a transformação num mundo sustentável. Com 120 álbuns gravados, muitos deles galardoados, é através da música e do complexo instrumental de altíssimo nível da Kremerata Baltica que o violinista letão oferece o seu contributo para um mundo melhor, com o virtuosismo da sua arte exposto num polifacético cocktail de programas onde não há místicas petrificadas e o cânone vencedor é o da qualidade de uma música sem tempo nem fronteiras. Muitíssimo aplaudida em Lisboa com um programa composto por música contemporânea (Philip Glass, Mieczyslav Weinberg e Astor Piazzolla) e também por uma obra do repertório clássico (a “Fantasia em Dó maior”, D. 934, de Schubert), a Kremerata Baltica exibiu a sua assombrosa versatilidade na interpretação da “Orphée Suite” retirada de uma das três óperas de Glass inspiradas em Jean Cocteau. A peça foi executada por uma orquestra que sabe explorar primorosamente a linguagem de Glass e as suas ondas dinâmicas. Seguiu-se a obra de Schubert, num momento menos inspirado para estes músicos que tão bem praticam as obras vanguardistas de Gubaidulina, Victor Kissine e Silvestrov. Do compositor polaco Weinberg chegou a “Sinfonietta nº 2, opus 74”, concluindo-se o concerto com a intensidade arrebatadora das “Cuatro Estaciones Porteñas” de Piazzolla.

 

Ana Rocha

Expresso – 29.04.2017

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