Chiaroscuro Quartet
Nas sessões musicais de 7 a 19 de dezembro preparadas em Nova Iorque por Marina Abramovic no Park Avenue Armory, foram dadas instruções para que os espectadores deixassem relógios, telemóveis e aparelhos fotográficos em cacifos, de forma a evitar qualquer tipo de solicitação exterior à interpretação feita pelo pianista Igor Levit das Variações Goldberg. Encorajaram o desenvolvimento do sentido de se estar plenamente presente durante o espetáculo os 30 minutos iniciais em que se impôs silêncio absoluto à assistência para propiciar atenção e concentração. A artista sérvia desafia o público a conquistar ou a ganhar a sua música através de esforço pessoal e até de sofrimento. Se porventura o Método Abramovic tivesse sido aplicado durante o recital lisboeta do Chiaroscuro Quartet, muito mais se teria usufruído das peças de Mozart (Quarteto para Cordas nº 13, em Ré menor, K.173), de Haydn (Quarteto para Cordas em Fá menor, op. 20 nº 5) e de Beethoven (Quarteto para cordas nº 10, em Mi bemol Maior, op. 74, ou Harpa) que tanta reflexão e meditação reclamam.
Formado em 2005, o agrupamento de jovens toca em instrumentos de época e percorre diligentemente os meandros do repertório do Classicismo e do Romantismo. A violinista russa Alina Ibragimova é a alma deste quarteto ovacionado tanto pelas atuações ao vivo como também pelo seu trio de gravações dedicadas a Mozart, Beethoven, Schubert e Mendelssohn. A brilhante técnica e a sonoridade sedutora de Ibragimova insuflaram energia em Pablo Hernán Benedí (violino), Emilie Hörnlund (viola) e Claire Thirion (violoncelo), que interpretaram com dinamismo incisivo a peça escrita por Mozart. Pela bela homogeneidade e pela esplêndida paleta de cores, os melhores instantes do recital foram preenchidos com Haydn.
Para o final, estava reservada a exploração do quarteto de Beethoven com uma interpretação onde faltou calor, precisão nos ataques e o necessário equilíbrio das vozes dos instrumentos.
Ana Rocha
Expresso, 16 Janeiro 2016