All you need is Love

11 ago 2016

O baterista Paal Nilssen-Love tem tantas facetas que poderia facilmente preencher toda uma edição do Jazz em Agosto. Nesta segunda semana surge em bigband e a solo.

A solo. Em duo com Ken Vandermark, Mats Gustafsson, John Butcher ou LasseMarhaug.
Em trio com os The Thing, o Scorch Trio, os OffOnOff, os Fireroom, ou o Free Music Ensemble ou com Michiyo Yagi & Peter Brötzmann ou Brötzmann & Gustafsson. Em quarteto com a Townhouse Orchestra. Em quinteto com os School Days ou os Atomic (onde cedeu o lugar a Hans Hulbaekmo, em 2014). Estes são alguns dos projectos de que o hiperactivo baterista norueguês Paal Nilssen-Love faz parte não contando com aqueles que tiveram existência episódica nem com aqueles em que é apenas sideman.

0 Jazz em Agosto (JeA), dá a ouvir os dois extremos deste espectro: a solo (sábado) e com a Large Unit (domingo). A Large Unit reúne alguns dos mais ativos jazzmen escandinavos e surge, no JeA, reforçada por dois percussionistas brasileiros como se as baterias de Nilssen-Love e Andreas Wildhagen não produzissem já temíveis borrascas.

 
A energia e inventividade inesgotáveis de Nilssen-Love podem fazer crer que ele é uma criatura do espaço exterior, mas o “Love in Outer Space”, que se ouvirá no sábado no anfiteatro ao ar livre da Gulbenkian, nada tem a ver com o baterista norueguês. É uma canção de Sun Ra que faz parte do alinhamento de Supersonic Plays Sun Ra, o disco de 2014 do projecto Supersonic do saxofonista Thomas de Pourquery. O sexteto foi constituído para prestar homenagem ao teclista, compositor, líder de orquestra e visionário Sun Ra, mas também inclui composições de fabrico próprio e de Roland Kirk.

A tuba e o seu parente sousafone têm longa tradição no jazz desde as marching bands de New Orleans, mas como simples suporte no registo grave. Contudo, nas mãos de virtuosos como Sérgio Carolino ou Owen Marshall, o instrumento é capaz das mais desvairadas acrobacias e sonoridades. Carolino e Marshall associaram-se aos bateristas Mário Costa e Alexandre Frazão no invulgar Tuba & Drums Double Duo (quarta-feira), que terá no JeA a sua estreia mundial e promete a conciliação do jazz tradicional com a improvisação desabrida.

Muitas décadas após terem obtido o direito a votar, as mulheres só lentamente vão conquistando espaço como instrumentistas de jazz. A guitarra tem sido um feudo quase exclusivamente masculino, mas depois de Mary Halvorson (cujo quinteto esteve no JeA 2013) ter estilhaçado a regra “menina não-entra”, surge agora Ava Mendoza, cujo trio Unnatural Ways (quinta-feira), com Tim Dahl (baixo) e Sam Ospovat (bateria), mescla elementos do rock alternativo, blues, psicadelismo e metal com a componente improvisativa. O registo abrasivo de Mendoza mostra que assimilou bem as lições do seu mestre Nels Cline. Estreou-se em disco com um duo como baterista Nick Tamburro, Quit Your Unnatural Ways, a que se seguiu o primeiro disco, homónimo, do trio Unnatural Ways (com formação diversa da que vem ao JeA).

 
Nos Z-Country Paradise (sexta-feira) há uma mulher no lugar que o jazz lhe reservava tradicionalmente: o de cantora. Só que o papel da servia Jelena Kulic é tudo menos tradicional: o seu original e expressivo registo de spoken word desliza com segurança sobre o substrato movediço providenciado por Frank Gratowski (sax), Kalle Kalima (guitarra), Oliver Potratz (baixo) e Christian Marien (bateria). O projecto apresenta-se como punk cabaret, pede emprestados textos a Arthur Rimbaud e Charles Simic. O saxofonista alemão Frank Gratowski, que é o motor criativo dos Z-Country Paradise, regressa no domingo a solo.

Até domingo, os demónios do Jazz assombrarão os paradisíacos jardins da Fundação Gulbenkian.

por José Carlos Fernandes

Time Out – 10 Agosto 2016

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