A primeira edição do “Jazz em Agosto”
Jazz em Agosto é uma iniciativa que integra, logo na sua origem, o programa de atividades do ACARTE. Esta unidade orgânica é criada por deliberação do Conselho de Administração de 17 de abril de 1984, sucedendo ao Departamento de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte previsto no então recém-criado Centro de Arte Moderna, serviço do qual o ACARTE se autonomiza.
Liderado por Madalena de Azeredo Perdigão, o ACARTE torna-se um poderoso agente de modernização da vida artística portuguesa, desenvolvendo uma programação de carácter multidisciplinar, experimental, vanguardista e internacionalista, plataforma de confluência entre culturas populares, urbanas e suburbanas.
A programação musical regular da Fundação era já nessa altura publicamente reconhecida e prestigiada pela excelência dos seus programas de música erudita. A entrada do jazz – género musical até então com uma história e presença relativamente incipientes na vida artística portuguesa – nessa programação insere-se, justamente, nesse processo de modernização e de abertura a novos públicos que o ACARTE se propunha protagonizar.
Esta primeira edição do Jazz em Agosto é totalmente preenchida por agrupamentos portugueses.
Mais de metade deste grupo de artistas pertence, então, ao universo do Hot Clube de Portugal, entidade incontornável do panorama jazzístico português e responsável pela programação deste evento. Destes artistas, um número considerável participou nos alinhamentos das edições subsequentes do festival (especialmente durante a direção de Madalena de Azeredo Perdigão), ainda que em formações diferentes ou derivadas das primeiras.
Outros houve que colaboraram também noutros espetáculos musicais – nas áreas do jazz, da música erudita, do teatro ou da dança – organizados ora pelo ACARTE, ora por outros serviços da Fundação, nomeadamente pelo Serviço de Música. Alguns tornaram-se artistas de referência na cena do Jazz em Portugal.
Do ponto de vista da gestão administrativa e financeira e da produção técnica e artística, este primeiro Jazz em Agosto, considerado por muitos como experimental, bem como outros eventos do programa do ACARTE de 84, caracteriza-se por uma significativa dose de improviso e de informalidade de práticas e procedimentos. Tal facto chega, aliás, a motivar um reparo do Presidente, que, por outro lado, não hesita em destacar e louvar a importância cultural e artística do projeto e em justificar esses problemas com a óbvia falta de recursos materiais e humanos do recém-criado serviço.
Esta condição vem, por outro lado, evidenciar e tornar candente a questão da articulação entre o novo serviço e as outras unidades orgânicas da Fundação, especialmente as vocacionadas para a difusão cultural.
A este propósito, é curioso notar que na mesma reunião de setembro de 1983 em que o Conselho de Administração delibera nomear Madalena de Azeredo Perdigão para dirigir o Departamento de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte do Centro de Arte Moderna, com a categoria de Diretor de Serviço, este órgão decida recomendar que:
“(…) os Serviços da FCG continuem a dispensar uma atenção especial à difusão da cultura em todo o País, de uma forma integrada, para o que se torna necessário desenvolver o espírito de colaboração inter-Serviços, e intensificar, tanto quanto possível, essa difusão que se deseja devidamente coordenada pelo próprio Conselho e não exercida em compartimentos estanques.”
Ata n.º 41/83, de 13 de setembro
Dos Arquivos
Momentos relevantes na história de Calouste Gulbenkian e da Fundação Gulbenkian em Portugal e no resto do mundo.