A primeira edição do “Jazz em Agosto”

“Jazz em Agosto”, hoje um festival incontornável no jazz nacional, começa como iniciativa experimental integrada no programa de atividades do ACARTE 84.
16 mai 2023 4 min
Dos Arquivos

Jazz em Agosto é uma iniciativa que integra, logo na sua origem, o programa de atividades do ACARTE. Esta unidade orgânica é criada por deliberação do Conselho de Administração de 17 de abril de 1984, sucedendo ao Departamento de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte previsto no então recém-criado Centro de Arte Moderna, serviço do qual o ACARTE se autonomiza.

Liderado por Madalena de Azeredo Perdigão, o ACARTE torna-se um poderoso agente de modernização da vida artística portuguesa, desenvolvendo uma programação de carácter multidisciplinar, experimental, vanguardista e internacionalista, plataforma de confluência entre culturas populares, urbanas e suburbanas.

A programação musical regular da Fundação era já nessa altura publicamente reconhecida e prestigiada pela excelência dos seus programas de música erudita. A entrada do jazz – género musical até então com uma história e presença relativamente incipientes na vida artística portuguesa – nessa programação insere-se, justamente, nesse processo de modernização e de abertura a novos públicos que o ACARTE se propunha protagonizar.

Esta primeira edição do Jazz em Agosto é totalmente preenchida por agrupamentos portugueses.

Mais de metade deste grupo de artistas pertence, então, ao universo do Hot Clube de Portugal, entidade incontornável do panorama jazzístico português e responsável pela programação deste evento. Destes artistas, um número considerável participou nos alinhamentos das edições subsequentes do festival (especialmente durante a direção de Madalena de Azeredo Perdigão), ainda que em formações diferentes ou derivadas das primeiras.

Outros houve que colaboraram também noutros espetáculos musicais – nas áreas do jazz, da música erudita, do teatro ou da dança – organizados ora pelo ACARTE, ora por outros serviços da Fundação, nomeadamente pelo Serviço de Música. Alguns tornaram-se artistas de referência na cena do Jazz em Portugal.

Desdobrável do “Jazz em Agosto”, 1984
Desdobrável do “Jazz em Agosto”, 1984

Do ponto de vista da gestão administrativa e financeira e da produção técnica e artística, este primeiro Jazz em Agosto, considerado por muitos como experimental, bem como outros eventos do programa do ACARTE de 84, caracteriza-se por uma significativa dose de improviso e de informalidade de práticas e procedimentos. Tal facto chega, aliás, a motivar um reparo do Presidente, que, por outro lado, não hesita em destacar e louvar a importância cultural e artística do projeto e em justificar esses problemas com a óbvia falta de recursos materiais e humanos do recém-criado serviço.

Esta condição vem, por outro lado, evidenciar e tornar candente a questão da articulação entre o novo serviço e as outras unidades orgânicas da Fundação, especialmente as vocacionadas para a difusão cultural.

A este propósito, é curioso notar que na mesma reunião de setembro de 1983 em que o Conselho de Administração delibera nomear Madalena de Azeredo Perdigão para dirigir o Departamento de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte do Centro de Arte Moderna, com a categoria de Diretor de Serviço, este órgão decida recomendar que:

“(…) os Serviços da FCG continuem a dispensar uma atenção especial à difusão da cultura em todo o País, de uma forma integrada, para o que se torna necessário desenvolver o espírito de colaboração inter-Serviços, e intensificar, tanto quanto possível, essa difusão que se deseja devidamente coordenada pelo próprio Conselho e não exercida em compartimentos estanques.”

Ata n.º 41/83, de 13 de setembro

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