Hoffmeister, Franz Anton
Complete Works for Viola
O compositor é Franz Anton Hoffmeister, personalidade que viveu entre 1754 e 1812, e a gravação, sob a chancela da editora Oehms, inclui dois concertos para violeta e orquestra, e ainda os 12 Estudos para Violeta Solo. Esta última obra tem a particularidade de surgir em primeira gravação mundial, o que nos ajuda a conhecer bem melhor a produção do compositor. E esse é um facto determinante no presente trabalho, para além da qualidade artística da interpretação.
Hoffmeister é um desses nomes injustamente votado ao ostracismo pelo curso da história, a merecer desde já uma reavaliação, dada a qualidade criativa das obras constantes no disco. Activo no âmbito do universo vienense da segunda metade do séc. XVIII, Hoffmeister viria sobretudo a ser conhecido como editor de música, a ele se devendo a fundação da ainda hoje existente editora C. F. Peters. Mas também se relacionou com os grandes génios musicais do seu tempo, com destaque para Mozart, de quem foi um fiel amigo, Haydn, Dittersdorf e Beethoven que dele disse tratar-se de um «verdadeiro irmão na arte da música».
Sendo a composição musical uma espécie de actividade de «segundo plano» para Hoffmeitser, dado o seu investimento no negócio da edição, ela não é, de todo, de desprezar. O curioso é que na gravação existe uma analogia entre esta constatação e o facto da violeta ser, a seu modo também, um «meio musical de segundo plano», quando comparada com o violino, absolutamente hegemónico. Os dois concertos que o disco inclui, emblemáticos do repertório concertístico de qualquer violetista, particularmente o Concerto em Ré maior, constituem momentos da melhor invenção musical clássica, formalmente cristalinos e obedecendo «cegamente» a todos os clichés expressivos do género concerto. Ashan Pillai, o solista, está aí para o demonstrar, através da sua verve interpretativa, com um som cheio e redondo, embora por vezes agreste no registo agudo. Quanto à Orquestra Gulbenkian, com Christopher Hogwood no púlpito, que melhor se poderia desejar no cumprimento criterioso do discurso clássico vienense?
Na verdade, Hogwood transporta o seu saber, herdado da música antiga, para a direcção de uma formação moderna, como é o caso da Orquestra Gulbenkian, não se notando qualquer espécie de desvio da lógica da retórica clássico. Exemplar portanto o trabalho do maestro britânico.
Finalmente, cabe referir os 12 Estudos para violeta solo, menos interessantes que os concertos, mas que nos dão uma imagem poderosa do talento ilimitado de Ashan Pillai. As 12 peças abordam praticamente todos os artifícios técnicos e expressivos do instrumento no seu universo clássico, surgindo como uma espécie de exame a que o executante se auto-propõe. A classificação só pode ser excelente, merecendo Ashan Pillai o nosso mais vivo aplauso.
Filipe Mesquita de Oliveira
Intérpretes:
- Ashan Pillai (viola)
- Christopher Hogwood (maestro)
- Orquestra Gulbenkian