Kodály, Zoltán / Bartók, Béla / Ligeti, György
Dances from Galánta for Orchestra (1933)
Deux Portraits (Két arckép) Sz.37 (Op. 5)
Háry János, Suite (1927)
First Rhapsody for Violin and Orchestra Sz.87 (1928)
Concert Românesc (Romanian Concerto) (1951)
Bartok, Kodali, Ligeti Orquestra Gulbenkian, direcção Lawrence Foster
Este generoso programa de obras orquestrais húngaras, sobretudo de Kodály e Bartók, é particularmente bem-vindo pela inclusão de uma raridade, o Concert Românesc (Concerto Romeno) de György Ligeti.
Os que apenas conhecerem as composições mais tardias deste «enfant terrible» entre os compositores húngaros ficarão surpreendidos pelo carácter melodioso e extremamente acessível desta obra primordial (1951), em que Ligeti usa trechos autênticos de música popular romena em algo que é, no essencial, uma breve suite em quatro movimentos.
O «Andantino», similar a uma canção, com o qual a obra se inicia, conduz a um vigoroso e brilhantemente orquestrado «Allegro vivace». O movimento lento inclui um par de trompas naturais, usadas para sugerir o som de trompas alpinas distantes em prados de montanha, ao passo que o final é uma dança desenfreada com as cordas quase que a tocarem ao despique e com um violino cigano em lugar de destaque. A sua abertura recorda o arranque do final do «Concerto for Orchestra» de Bartók antes de se metamorfosear em algo próximo da Primeira Rapsódia Romena de Enescu. É precisamente o tipo de peça cheia de cor que podemos imaginar que teria feito as delícias de Leopold Stokowski se a tivesse conhecido. Como pode esperar-se de um maestro que dedicou uma boa parte da sua vida musical à promoção da música de Enescu, também Lawrence Foster está aqui no seu elemento, e seria difícil encontrarmos uma actuação mais divertida que esta.
Kodály é representado por duas das suas obras mais populares, as «Danças de Galánta» e a «Suite de Háry János».
As cinco danças de Galánta (tendo cada uma direito à sua faixa específica neste disco) são objecto de actuações refinadas e sem falta de estilo, em particular no que diz respeito à clarinete principal da orquestra, Esther Georgie, plenamente merecedora das honras que lhe são prestadas no caderno de acompanhamento do disco. A orquestração colorida de Háry János torna esta peça ideal para exemplificar o realismo do som em alta resolução em movimentos como «O Relógio Musical de Viena», ao passo que o timbre característico do címbalo húngaro acrescenta um verdadeiro toque húngaro tanto à «Canção» como ao «Intermezzo». Há que dizer, porém, que a orquestra nem sempre parece estar inteiramente à vontade com o uso que Foster faz do rubato, o qual por vezes soa mais atabalhoado que natural, e que muitas apresentações mais vivas e soltas destas peças de Kodály se encontram disponíveis em CD. Compositores naturais da Hungria como Szell, Dorati e Fischer conferem a esta música uma chama e paixão inata que Foster e a Orquestra Gulbenkian não conseguem acompanhar na totalidade.
O címbalo húngaro também aparece em lugar de destaque na«Primeira Rapsódia para Violino e Orquestra»de Bartók. Surpreendentemente esta é a única obra em que Bartók integrou este instrumento tipicamente Magiar e, uma vez que a parte do címbalo húngaro é frequentemente atribuída a um piano, a sua presença nesta actuação acrescenta um bem-vindo toque idiomático. O violino solo aqui é tocado pela concertino da orquestra, Mihaela Costea, que também é a solista no primeiro dos ‘Dois Retratos para Orquestra’ de Bartók.
Como referi, Lawrence Foster dirige todas as obras neste disco com o profissionalismo que lhe é habitual, e a excelente Orquestra Gulbenkian responde à sua direcção pouco dada a espalhafatos com prestações entusiastas e refinadas. O que falta é só essa magia impossível de definir que encontramos noutras actuações. A gravação ao vivo da equipa da Polyhymnia (não há rasto de ruídos da plateia ou de aplausos) é mais equilibrada e autêntica do que francamente espectacular.
Apesar de todas as reservas, estamos perante um SA-CD.net extremamente agradável.
Crítica de Castor
Copyright © 2010 Graham Williams e SA-CD.net, 14 Dezembro.
Intérpretes:
- Lawrence Foster (Direcção)
- Orquestra Gulbenkian