Beethoven Solemnis

Missa Solemnis de Beethoven

Coro Gulbenkian e Orquestra de Câmara da Europa

Uma Missa Solemnis de Beethoven magnífica

Para mim, a Missa Solemnis é a obra mais intimidativa e difícil de Beethoven, aquela de que tenho mais consciência de não estar à altura. Desconfio que as apresentações e gravações que mais apreciei foram ligeiramente mais suaves do que tinha sido a intenção do compositor. Não é coisa que se pudesse dizer desta gravação de 2010 que me parece ser a mais impressionante que alguma vez ouvi, embora a de Colin Davis nos Proms do ano passado fosse da mesma categoria. A Orquestra de Câmara da Europa toca de uma forma magnífica e incansável. E o mesmo se aplica ao coro, uma formação profissional cujos membros têm todos outros empregos durante o dia mas se encontram todas as noites para cantar.

São destemidos, e têm mesmo de o ser. Não só dão conta das exigências muitas vezes absurdas de Beethoven como parecem exultar com elas, embora não se esqueçam de transmitir essa sensação de ausência de esforço que constitui um elemento tão importante da partitura. Os solistas estão colocados atrás da orquestra porque, tal como John Nelson explica numa entrevista excepcionalmente oportuna nos extras, de facto não são solistas, mas sim um quarteto, embora eu não possa deixar de referir que o tenor, Nikolai Schukoff, se destaca dos restantes.

John Nelson, do qual, no Reino Unido, vemos e ouvimos muito pouco, mostra-se claramente à altura desta partitura como ninguém e consegue transmitir a urgência da sua perspectiva por gestos e expressões que são eloquentes e nada demonstrativos. Parece pouco provável que a visão que Beethoven teve nesta obra alguma vez venha a ser mais bem reproduzida.

BBC Music Magazine, Março 2012

 

Beethoven: Missa Solemnis

O Coro Gulbenkian é apropriadamente intenso, cantando a plenos pulmões, nos grandes momentos... e diáfano nas passagens mais serenas... com as texturas esculpidas de um modo preciso em todos os níveis dinâmicos.

A partir da primeira nota do Kyrie com um ataque calmo mas preciso e o som cheio e orgânico John Nelson lidera uma apresentação poderosa desta partitura assombrosa. Não tem medo de pôr esporas à música: o Gloria começa com um belo impulso vertiginoso e as fugas finais, aqui e no Credo, são rápidas e arrebatadoras. No entanto, Nelson também fica à altura da variedade da música, infundindo aos fluidos cantabiles uma exuberância graciosa e tocando as passagens introspectivas com uma concentração sustentada: o Sanctus desdobra-se de forma paciente, com uma misteriosidade solene. Ele sabe como exprimir alterações de ambiente ou cor como em "Domine fili unigenite" no Gloria sem perturbar a pulsação, o que sempre é uma vantagem quando se trata de Beethoven.

As raízes de Nelson na tradição coral revelam-se aqui na atenção dada ao tom e à expressão coral. Nos grandes momentos, o Coro Gulbenkian é apropriadamente intenso, cantando a plenos pulmões, transmitindo uma alegria palpável nas linhas pirotécnicas do "Et ascendit" e do Credo. Já nas passagens mais serenas é diáfano, em particular quando as partes são separadas; os ataques são calmos, as texturas esculpidas de um modo preciso em todos os níveis dinâmicos. (Talvez eu não jurasse a pés juntos que têm um domínio perfeito de cada nota da coda do Gloria com a velocidade que Nelson lhes impõe) A Orquestra de Câmara da Europa tem uma resposta similar, atuando com uma sonoridade suave e rica e sendo, nas alturas próprias, tão incisiva quanto necessário; a concertino Marieke Blankestijn toca o Benedictus de um modo vibrante.

Os solistas de primeira classe provam ser uma vantagem de monta. A Soprano Tamara Wilson maneja a sua tessitura aguda com um bom equilíbrio de calma e verve. Tem o potencial necessário para o "Dona nobis pacem" e lança o "Pleni sunt coeli" que Nelson atribui ao quarteto em vez do coro com um brilho carregado de energia. O tenor sonoro de Nikolai Schukoff move-se com alguma rigidez, e a sua acentuação é por vezes insistente, mas os seus tons proclamatórios caem muito bem em "Et homo factus est" e no Credo, e sabe reduzir a escala convenientemente quando entram em conjunto. Brindley Sherratt preenche as linhas de baixo com sólida ressonância e tem apenas ligeiros contratempos nas passagens agudas do Benedictus. Elizabeth DeShong traz verdadeira profundidade e firmeza ao solo do alto. Os quatro juntos constituem um quarteto impecavelmente equilibrado e entrosado onde até DeShong está firmemente "presente" no conjunto e não se deixam impressionar com o andamento que Nelson impõe ao stretto do "In gloria Dei Patris". Neste contexto não deixa de ser surpreendente uma descoordenação momentânea e de pouca monta no "Amen" do Credo.

Uma produção de vídeo conservadora dirige uma variedade interessante de ângulos de câmara, conseguindo que a todo o momento estejamos a ver algo que faz sentido e onde a seleção dos ângulos chama discretamente a atenção para um ataque bem definido aqui, um acompanhamento das madeiras ali tudo muito bem executado. O trabalho de som é de uma rara beleza, com uma conspícua abundância em pausas gerais e cutoffs. Como extras traz entrevistas com Nelson e com o presidente da Orquestra de Câmara da Europa, Peter Readman.


Stephen Francis Vasta
Opera News, Fevereiro 2012

Intérpretes:
  • Chamber Orchestra Of Europe
  • Coro Gulbenkian
  • Jonh Nelson (Direcção)
Atualização em 23 abril 2020

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