Delegação em França
A presença formal da Fundação em Paris inicia-se com a inauguração do Centre Culturel Portugais nessa mesma cidade, a 3 de maio de 1965. Com a missão de promover a cultura portuguesa em França, acolhe uma importante biblioteca de língua portuguesa, oferecendo ainda condições para albergar investigadores e bolseiros portugueses no país.
O Centro ocupa o Hôtel Gulbenkian, a mítica residência de Calouste Sarkis Gulbenkian no número 51 da Avenue d’Iéna. Esta enorme casa foi adquirida por Calouste Gulbenkian em 1922 como residência em Paris e para reunir a sua coleção de arte.
Ainda antes da inauguração oficial, a Fundação organiza a primeira das suas exposições em Paris em outubro de 1960, com várias obras pertencentes à Coleção Gulbenkian, que partirão depois para integrar o Museu Gulbenkian em Lisboa.
A Biblioteca começou a ser concebida desde 1960, sob a coordenação de António Coimbra Martins em colaboração com Almeida Langhans. Em maio de 1965, o espólio já comportava cerca de 20 mil volumes, compostos por obras fundamentais de literatura e história, obras sobre as relações luso-francesas e ainda uma importante coleção de livros raros, obras fundadoras da história de Portugal.
Os primeiros anos do Centro caracterizam-se por um perfil académico e erudito. O programa de atividades proposto, além da ação regular da Biblioteca, inclui exposições de arte, mas também exposições bibliográficas, recitais de música e conferências com importantes investigadores portugueses e célebres lusitanistas franceses como Marcel Bataillon, Paul Teyssier, Léon Bourdon, Robert Ricard ou Raymond Cantel. No final da década de 60, inicia-se uma importante atividade editorial, com a publicação da revista Arquivos do Centro e das coleções «Memórias e Documentos para a História Luso-Francesa», «Série Histórica & Literária», «Civilização Portuguesa» e «Fontes Documentais Portuguesas», assim como dos catálogos das exposições realizadas.
A partir dos anos 80, o contexto social e político começa a mudar, com a entrada de um Portugal democrático na Comunidade Europeia, e os desafios que se apresentam ao Centro alteram-se. Este período corresponde a uma crescente visibilidade da cultura portuguesa em França: a língua portuguesa começa a ser lecionada de forma mais abrangente no sistema de ensino francês, o número de leitorados aumenta e há mais alunos a aprender a língua. É nesta altura, também, que o interesse pela língua portuguesa se alarga, iniciando o Centro um processo de diálogo com as outras culturas de língua portuguesa. A partir desta década, o Centro investe fortemente no apoio à tradução e edição em França.
No decorrer desta década, a Fundação procura ainda posicionar-se no centro dos debates sobre cultura contemporânea e no quadro cultural francês, estabelecendo parcerias com importantes instituições francesas, fora do círculo lusitanista erudito. Este processo continua até aos anos 2000, altura em que a Fundação sai progressivamente dos tradicionais círculos das humanidades e presta uma atenção crescente a outras áreas, como as ciências sociais, os temas científicos e os assuntos europeus.
Em 2011, o Centro, entretanto redenominado «Delegação em França da Fundação Gulbenkian», instala-se no número 39 do Boulevard de La Tour-Maubourg, deixando o histórico Hôtel Gulbenkian na Avenue d’Iéna. Na nova configuração, a Delegação assume progressivamente a sua identidade de instituição filantrópica, integrando a paisagem de fundações atuantes em solo francês, consolidando a sua vocação internacional e procurando fazer avançar os interesses da cultura portuguesa num quadro alargado e cosmopolita.
Em 2015 e 2016, a Delegação celebrou os seus cinquenta anos em Paris, assinalando a efeméride com um intenso programa de atividades, de entre as quais se destacam a grande exposição «Amadeo de Souza-Cardoso», realizada em parceria com o Grand Palais, e a exposição «Les universalistes. 50 ans d’architecture portugaise», em parceria com a Cité de l’architecture.
Ao longo de mais de cinquenta anos de atividades, a Fundação Gulbenkian em Paris organizou cerca de 200 exposições, mais de 600 colóquios e conferências, lançamentos de livros, mesas-redondas e seminários, 250 exposições bibliográficas e perto de 300 concertos e recitais. Publicou, igualmente, cerca de 300 títulos, apoiou a tradução de mais de 100 obras de autores portugueses e organizou uma biblioteca de língua portuguesa que hoje comporta cerca de 55 mil volumes.
Miguel Magalhães, 2019