Autor de percurso artístico multifacetado, que passou pela criação de cenários e figurinos para teatro, pela arquitetura de interiores, pela ilustração e pela crítica de arte, João Sant’iago (1918- 2014) apresentou na Galeria de Exposições Temporárias do Edifício Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 01) uma mostra de 60 pinturas em tela e técnica mista, de caráter surrealista.

A inauguração da exposição, realizada a 24 de outubro de 1988, contou com a presença do presidente da República Mário Soares e foi noticiada no jornal A Capital como um evento que reuniu «arquitectos, escritores, pintores, escultores – nomes de relevo na cultura portuguesa. O ambiente era de admiração e por todo o lado se ouviam elogios» (A Capital, 25 out. 1988).

Na imprensa escrita nacional, a exposição seria recebida de forma desigual: defendida e elogiada pelo crítico Mário de Oliveira, autor do texto do catálogo, e veemente criticada num artigo do jornal Expresso. Apesar de não ter sido possível encontrar o artigo em questão, este surge citado por Oliveira: «Entre o silêncio educado e o protesto, mais um?, escolha-se a referência mínima: há pinturas que se vendem nos passeios, casinos ou centros comerciais, e outras ainda em galerias e fundações […], por vezes movimentam-se interesses mais obscuros e baralham-se os locais – não é uma questão de hierarquias, mas de critérios, gostos, culturas ou simples usos dos objectos. Neste caso percebe-se que o serviço de exposições teve de engolir o frete. Mas o público da Gulbenkian, baralhado pela frequência dos acidentes, é capaz de continuar confuso.» (Oliveira, Correio da Manhã, 22 nov. 1988)

Mário de Oliveira rebateria este ponto de vista, afirmando que o público acorreu «aos milhares» à Fundação Calouste Gulbenkian para ver a «notável exposição» (Ibid.).

Num outro artigo, desta feita de Pedro Elósegui Barreiros, publicado no Diário Popular, o trabalho de Sant’iago é elogiado, mas o espaço da exposição é criticado: «Todas as fases, os trabalhos mais marcantes e sobretudo um grande rigor na sequência pictórica (a que, de resto, a sala de exposições da FCG não ajuda muito, porque demasiado compartimentada; retalha) estão ali expostos.» (Barreiros, Dário Popular, 26 out. 1988) Neste artigo, Barreiros elogia também a programação artística da Gulbenkian, afirmando que se trata da exposição de um dos melhores representantes do surrealismo português.

Carolina Gouveia Matias, 2018