A exposição individual de 40 obras de pintura e desenho da pintora portuguesa Margarida Kendall (1946) inaugurou a 8 de maio de 1984 na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 01).

O documento mais antigo relacionado com a produção da exposição é um apontamento interno da Fundação, datado de 3 de janeiro de 1984, assinado por José Blanco e dirigido a José Sommer Ribeiro, informando sobre o desejo que a pintora Margarida Kendall manifestara de expor o seu trabalho na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG).

O comissariado da exposição foi da responsabilidade de Josephine G. Greco, diretora da Osuna Gallery, em Washington, galeria que representava Margarida Kendall nos Estados Unidos da América.

Das obras expostas, pertencem à Coleção Moderna da FCG o conjunto The City, constituído por 12 desenhos que narram a história do mundo, e A Alma e os Ratos de St.ª Gestrudes. A vontade da FCG em adquirir esta obra, processo concluído em fevereiro de 1985, encontra-se expressa na correspondência trocada com a Galeria Osuna durante esse mesmo ano.

O catálogo da exposição reúne um texto de José Sommer Ribeiro, diretor do Serviço de Exposições e Museografia da FCG, seguido de um texto de Anita Reiner, uma das colecionadoras mais relevantes da cidade de Washington, no qual é analisado o significado e pertinência da obra de Margarida Kendall. O prólogo de Sommer Ribeiro identifica a presença de Portugal no trabalho da pintora, referindo como elementos recorrentes nas suas composições o mar, os barcos e as aves, elos de um mistério que se «transforma em fantasia, eivada de grande dramatismo, mas, muitas vezes, não desprovida de grande beleza poética ou de crítica à vida actual» (Margarida Kendall, 1984).

Além da habitual reprodução de obras expostas, o catálogo inclui uma pequena biografia da artista, complementada por uma listagem dos prémios recebidos e uma cronologia das exposições individuais e coletivas em que ela participou.

A exposição foi noticiada nos jornais Comércio do Porto, Diário de Lisboa, Diário de Notícias, Notícias da Tarde, A Tarde, Correio da Manhã, O Diário e O Globo. Grande parte dos pequenos artigos de divulgação indica, para a inauguração e o encerramento, as datas de 21 de março e 16 de abril, respetivamente, calendarização que não se viria a confirmar em virtude de atrasos relacionados com o transporte dos quadros de Washington para Lisboa. O Globo daria notícia desse atraso, informando que a exposição «deveria ter sido inaugurada no passado dia 21 de Abril e que por motivos de força maior teve que ser adiada» (O Globo, 8 mai. 1984).

Mário de Oliveira escreveria no jornal O País que «fez bem a Fundação Calouste Gulbenkian trazer até nós a artista portuguesa Margarida Kendall, desconhecida em Portugal e que nos Estados Unidos da América tem obtido enormes êxitos artísticos» (Oliveira, O País, 24 mai. 1984). O artigo termina dizendo que se trata de «uma exposição a não perder, de uma excelente artista portuguesa, que muito prestígio está a dar à nossa cultura além-fronteiras» (Ibid.).

A documentação analisada contém alguns recortes de imprensa de datação anterior à exposição, incluindo dois artigos de periódicos americanos: um referindo Margarida Kendall como uma das artistas mais inventivas do movimento «post-acid-head surrealistic underground» (Forgey, The Washington Star, 30 set. 1979); outro elogiando o traço surrealista da sua obra (Lewis, Washington Star-News, 3 mai. 1974).

Carolina Gouveia Matias, 2017