A exposição «L’Exposition d’un rêve», com curadoria do curador independente Mathieu Copeland, esteve patente na Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France, em Paris, entre 7 de outubro e 17 de dezembro de 2017.

Com o pressuposto teórico de «trabalhar a imagem mental» através do desafio criativo de «dar forma aos sonhos» («Gulbenkian de Paris transforma sonhos em exposição sonora», Diário de Notícias, 8 out. 2017), este projeto curatorial, de complexa execução, contou com a colaboração de um conjunto diversificado de criadores, entre artistas plásticos, músicos, poetas, dramaturgos e cineastas, a quem foi solicitada a elaboração de um texto ou poema sobre a ideia de sonho. Mathieu Copeland convidou para o efeito Gabriel Abrantes (1984), Genesis Breyer P-Orridge (1950-2020), F.M. Einheit (1958), Tim Etchells (1962), Alexandre Estrela (1971), Susie Green (1979), David Link (1971), Pierre Paulin (1927-2009), Emilie Pitoiset (1980), Lee Ranaldo (1956), Susan Stenger (1955) e Apichatpong Weerasethakul (1970).

Com base nestas narrativas, Copeland desafiou, num segundo momento, o músico alemão F.M. Einheit – um dos fundadores, na década de 1980, do grupo de música experimental Einstürzende Neubauten – a compor 12 trechos musicais gravados ao vivo na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), em Lisboa, nos meses de fevereiro e junho de 2017, no Anfiteatro ao Ar Livre do Jardim Gulbenkian, num estúdio situado no Edifício Sede da FCG e no Grande Auditório Gulbenkian. Participaram, nesta fase do projeto, os músicos Volker Kamp, Robert Poss (Band of Susans), Susan Stenger (Band of Susans; Big Bottom), Erika Stucky, Saskia von Klitzing (Chicks on Speed; Fehlfarben) e o Coro Gulbenkian. As 12 músicas foram gravadas em CD, consultável na Biblioteca de Arte da FCG.

A exposição, eminentemente sonora, ocupou algumas das salas da Delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris, nas quais, sem qualquer obra afixada nas paredes, se colocaram, suspensas, 32 colunas que permitiam uma projeção espacial dos sons. F.M. Einheit tinha gravado meticulosamente as suas peças em pistas autónomas que foram posteriormente montadas a partir da interpretação sonora de um conjunto de mandalas ou diagramas geométricos de Eduardo Terrazas (1936), Olivier Mosset (1944), Myriam Gourfink (1968) e Philippe Decrauzat (1974) e da série de quatro composições abstrato-geométricas do pintor português José de Almada Negreiros (1893-1970) pertencentes à coleção do Centro de Arte Moderna da FCG: O Ponto de Bauhütte (1957) (Inv. 83P64), Relação 9/10 (1957) (Inv. 83P62), Quadrante I (1957) (Inv. 83P63) e Porta da Harmonia (1957) (Inv. 83P65).

Mathieu Copeland descreve o seu projeto como um processo em que «cada sonho tem a autonomia de um texto, cada canção de FM [Einheit] tem a autoridade de um autor e cada desenho é um desenho de um artista. No entanto, a experiência que temos no espaço de exposição é uma experiência sensorial, em que não se pode atribuir a sua génese a uma única pessoa. Uma polifonia de pessoas cria um conjunto que é a exposição» («Gulbenkian de Paris transforma sonhos em exposição sonora», Diário de Notícias, 6 out. 2017).

Pretendia-se, assim, que da confluência dos diversos meios de projeção da ideia material de sonho surgisse uma polifonia de sons em que cada um era individual e singularmente apreendido pelos visitantes. De facto, nas palavras de Mathieu Copeland, «esta deambulação no espaço faz-nos recompor toda esta composição global que é a exposição. Isto durante uma hora e meia, que corresponde ao tempo para ouvir as 12 canções. Porém, estas canções serão difundidas num segundo momento que vai ser uma nova experiência, porque vão ser tocadas em função de outras mandalas. E por aí adiante» (Ibid.).

No âmbito da exposição, foi realizada, em Paris, no dia 16 de novembro de 2017, uma mesa-redonda sobre o projeto curatorial, que contou com a participação de Mathieu Copeland e do músico F.M. Einheit.

O projeto integrou ainda a publicação de uma monografia que recupera o formato da coleção «Textos Clássicos», da autoria do designer Sebastião Rodrigues, para as edições iniciadas na década de 1960. O volume inclui duas secções de textos intituladas, uma, Libretto d’une exposition, com os textos sobre o sonho e reprodução das mandalas e obras visuais que integraram o processo criativo, outra, Libretto d’un catalogue, com um conjunto de entrevistas e textos de autores nacionais e estrangeiros.

Isabel Falcão, 2022