Dynamique de la Lumière. Peintures de Costa Camelo

Exposição individual do pintor português Raul da Costa Camelo (1924-2008), que exibiu pinturas abstratas e de matriz expressionista. Concomitantemente à mostra, realizou-se uma conversa com o artista no Instituto Camões da capital francesa, onde aquele esteve estabelecido desde 1950.
Solo exhibition on Portuguese painter Raul da Costa Camelo (1924-2008) featuring abstract expressionist paintings. A conversation with the artist was held simultaneously with the show at the Camões Institute in the French capital, where the artist had been based since 1950.

Entre 17 de junho e 11 de julho de 1997, o Centre Culturel Calouste Gulbenkian apresentou uma exposição individual do artista português Raul da Costa Camelo (1924-2008).

As fotografias da inauguração indicam que foram expostas pinturas abstratas de matriz expressionista e gestualista. Entre as muitas peças incluídas, constam algumas obras realizadas já nos anos 90, em que Costa Camelo alia a impulsividade veloz das pinceladas às manchas de cor sólida, aos esfumados ténues, e a linhas de desenho exato. A espontaneidade gestual, embora possa ser o momento inaugural do exercício pictórico, é assim sustentada no espaço por esses elementos mais tectónicos e estruturantes. Eles conferem um esqueleto compositivo aos arrastamentos e garatujas informais, veiculando um sentimento de ponderada premeditação.

É, por isso, uma pintura que se predispõe a refletir, retrospetivamente, sobre algumas das tendências do informalismo do segundo pós-guerra, em especial o tachisme, que o autor terá encontrado na sua chegada a Paris, em 1950.

Apesar de rapidamente se ter notabilizado enquanto abstracionista, Costa Camelo lança o seu percurso na década de 1940 vinculado ao Neorrealismo. É na senda dessa linguagem que participa, em 1950, na 5.ª Exposição Geral de Artes Plásticas da Sociedade Nacional de Belas-Artes em Lisboa (certames em que o Neorrealismo encontrou projeção pública, em antagonismo com o Estado Novo). É nesse mesmo ano que Costa Camelo chega a Paris. Realiza a sua primeira exposição individual na Galeria Mistral, em 1953, continuando a trabalhar e a expor em França, numa aproximação às correntes informalistas do segundo pós-guerra (Novas Abstracções/Nouvelles Abstractions. Costa Camelo, Louis Darocha, Paula Liberato e Benjamin Marques, 2000, p. 42). Tal como muitas obras integráveis na segunda Escola de Paris, a pintura de Costa Camelo carrega na sua abstração a remota sensação de elementos naturais e de ambientes paisagísticos. A sua não-figuração vive da transformação do mundo fenoménico em valores de pura mancha, linha e cor, na senda de autores mais velhos, como Vieira da Silva, Nicolas de Staël ou Hans Hartung.

No início da década de 1960, já numa etapa eminentemente não-figurativa do seu trabalho, Costa Camelo foi um dos artistas destacados no artigo «Sete pintores portugueses em Paris» de José-Augusto França para a revista Colóquio/Artes da FCG (n.º 18, mai. 1962, pp. 12-17), juntamente com Lourdes Castro, René Bertholo, José Escada, Vasco Costa, Gonçalo Duarte e Costa Pinheiro.

Costa Camelo continuaria estabelecido em Paris até ao final da vida, o que representa uma das estadas mais prolongadas da diáspora artística portuguesa em França. Participou em diversos momentos importantes da programação da Fundação Calouste Gulbenkian nesse país. Realce-se a coletiva «Douze Artistes Portugais de Paris», de 1983, organizada por José-Augusto França no ano em que assumiu a direção do então ainda denominado Centre Cultural Portugais.

Três anos volvidos sobre esta individual de 1997, o CCCG organiza, em colaboração com o Instituto Camões, a coletiva «Novas Abstracções/Nouvelles Abstractions. Costa Camelo, Louis Darocha, Paula Liberato e Benjamin Marques», 2000. Em 2013, cinco anos após a morte do artista, o mesmo Instituto Camões realiza uma retrospetiva da sua obra, igualmente em Paris.

Ao longo do seu percurso, Costa Camelo expôs maioritariamente em França, Portugal e Espanha. Neste último país, a sua exposição na Galería Rayuela 19 (Madrid), em 1975, mereceu a publicação de um volume dos Cuadernos Rayuela 19 inteiramente dedicado ao pintor português (Raul Costa Camelo. Cuadernos Rayuela 19, 1975). O pintor Antonio Saura (1930-1998), cofundador do grupo madrileno El Paso, é um dos vários autores que aí tecem um comentário. Uma tradução portuguesa desse texto encontra-se publicada no catálogo de uma exposição de Costa Camelo na Galeria Quadrado Azul de 1987. Esta e outras articulações de Costa Camelo com os seus contemporâneos foi objeto da exposição «Costa Camelo. Caminhos Cruzados», de 2012, apresentada em Castelo Branco com organização da Câmara Municipal dessa cidade.

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

Dialogue avec Costa Camelo

23 jun 1997
Fundação Calouste Gulbenkian / Delegação em França – Centre Culturel Calouste Gulbenkian
Paris, França

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Fotografias em álbum da inauguração da exposição

Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 05378

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convites e programas de eventos que decorreram no CCP entre os anos de 1979 e 2003. 1979 – 2003

Arquivos Gulbenkian (Centre Culturel Portugais de Paris), Lisboa / PRS 04879

Álbum com coleção fotográfica, cor: inauguração (CCCG, Paris) 1997


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