Bobby Baker's Diary Drawings. Mental Illness and Me, 1997 – 2008

Fórum Gulbenkian de Saúde 2010. Mind Faces: As Diferentes Faces da Saúde Mental

Exposição individual da artista multidisciplinar britânica Bobby Baker (1950), organizada pelo Serviço de Saúde e Desenvolvimento Humano. Inserida no Fórum Gulbenkian de Saúde 2010, apresentou vários desenhos realizados entre 1997 e 2008, período em que Bobby Baker recebeu o diagnóstico de borderline personality disorder e recuperou.
Solo exhibition of British multidisciplinary artist Bobby Baker (1950) organised by the Service for Health and Human Development. Included in the Gulbenkian Forum on Health 2010, the show featured drawings produced between 1997 and 2008, during which time Baker was diagnosed with and overcame Borderline Personality Disorder.

«Bobby Baker's Diary Drawings. Mental Illness and Me, 1997-2008» foi uma exposição realizada no âmbito do Fórum Gulbenkian de Saúde 2010, intitulado «Mind Faces – As Diferentes Faces da Saúde Mental», evento que teve lugar no Auditório 2 da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), a 25 de fevereiro de 2010.

O fórum foi comissariado por José Miguel Caldas de Almeida, coordenador nacional para a saúde mental e professor catedrático de Psiquiatria e Saúde Mental da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, que se encontrava a conduzir um projeto para a Fundação Champalimaud, em parceria com a Universidade Católica, o Alto Comissariado da Saúde e a FCG, e que passava por um estudo epistemológico que desse a conhecer a magnitude e o impacto das doenças mentais, em Portugal.

O professor Caldas de Almeida foi o responsável pelo programa científico do projeto, para o qual convidou vários oradores especialistas no tema da saúde mental, enquanto João Mário Grilo e a RTP foram os coordenadores da programação complementar ao fórum e que passou por um ciclo intitulado «Cinema e Mente (13x) Mais que a Vida» e pela produção de Photomaton, documentário que aborda a vida de João dos Santos, médico pioneiro em Portugal no tratamento de problemas associados à saúde mental. Enquadradas no tema geral «Angústia, Histeria e Perversão na História da Ópera», foram ainda proferidas duas conferências por Rui Vieira Nery, intituladas «Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos» e «Heróis e Vilões em Estados Alterados».

Se o Fórum Gulbenkian de Saúde sempre foi encarado como um espaço privilegiado de diálogo sobre assuntos relacionados com a saúde e de divulgação dos mais recentes estudos realizados neste campo, foi graças à iniciativa de Isabel Mota, administradora da FCG, que a conversa foi aberta a temas mais abrangentes e multidisciplinares, que se relacionam com a saúde e a ciência, e a ligação destes dois campos à sociedade atual.

Um dos principais assuntos debatidos no fórum foi a necessidade de não se restringirem os problemas de doença mental às patologias em si, preconizando-se a sua inserção num espectro mais alargado que inclui os problemas relacionados com as atitudes comportamentais, como o abuso de álcool e drogas, desvios alimentares e sexuais, a violência doméstica ou social, etc. A análise da depressão, do seu aumento e efeitos na sociedade e na economia, foi outro dos temas abordados pelos especialistas do fórum.

Na sessão de abertura do colóquio, Emílio Rui Vilar, presidente do Conselho de Administração da FCG, referiu ainda as várias respostas dos órgãos institucionais as estas questões, como o facto de um grande número de doentes não beneficiar dos cuidados disponíveis, devido ao estigma social associado às patologias mentais. Para tal, e reconhecendo este problema, várias entidades, como a OMS e a Comissão Europeia, terão promovido várias iniciativas com o intuito de sensibilizar os governos e a sociedade para a necessidade de tornar esta questão uma prioridade na agenda de saúde pública, algo que Portugal pôs em prática em 2008 ao aprovar um plano nacional para o setor (Comunicação de Emílio Rui Vilar, 25 fev. 2010, Arquivos Gulbenkian, PRES 02241).

Emílio Rui Vilar revelou ainda o objetivo do Fórum Gulbenkian de Saúde 2010: «Aprofundar, em Portugal, a reflexão sobre as principais dimensões da saúde mental nos dias de hoje, nomeadamente as que se relacionam com a nova compreensão das doenças mentais, resultante dos avanços recentes do conhecimento científico, as repercussões destes avanços sobre a forma de a sociedade encarar a saúde mental, as novas respostas actualmente disponíveis para os problemas de saúde mental, e, finalmente, os principais desafios que se colocam na sociedade actual a este nível.» (Ibid.)

Além disto, o fórum teve ainda o propósito de apresentar o modo como as várias expressões artísticas – literatura, teatro, cinema e artes plásticas – se inspiram neste tema, produzindo uma pluralidade de perspetivas e narrativas de grande riqueza e complexidade. Por ocasião do fórum, a diretora do Centro de Arte Moderna da FCG, Isabel Carlos, programou um conjunto de exposições a partir do tema da saúde mental. Uma destas exposições foi «Bobby Baker's Diary Drawings. Mental Illness and Me, 1997-2008», cedida pela Wellcome Trust e comissariada por James Peto, Bobby Baker e Dora Whittuck, e que esteve patente no Hall dos Congressos, na Sede da FCG, de 25 de fevereiro a 25 de março de 2010. Bobby Baker esteve em Lisboa para a inauguração da exposição e para a projeção do monólogo How to Live, que encerrou o primeiro dia do fórum.

A exposição apresentou um conjunto de 158 desenhos, selecionados de um total de 711, que ilustram as experiências de Bobby Baker (1950) em centros terapêuticos de dia, enfermarias psiquiátricas e grupos de crise. São desenhos de um diário começado em 1997 e terminado em 2008, e retratam os altos e baixos da sua recuperação, vida familiar e profissional, sem deixar, no entanto, de refletir algum humor e ironia nas situações. O conjunto de desenhos aqui exposto, apresentado com muito êxito na Wellcome Collection, em 2009, começou por ser um trabalho pessoal, que depois foi divulgado à família, amigos e médicos como forma de Bobby Baker transmitir aquilo que realmente sentia.

A curadoria da exposição correspondeu às 17 fases que orientam a totalidade dos desenhos, modo de dar uma sequência cronológica à história que representam. No pequeno catálogo da exposição, cada fase é acompanhada pela reprodução de um desenho e por um comentário descritivo da artista. Uma síntese destas fases poderá ser consultada no catálogo da exposição e na documentação anexa.

O conjunto de trabalhos de Bobby Baker não pode dissociar-se da sua biografia, pelo que as leituras da sua obra têm de ter em conta os seus estados mentais, a sua necessidade de tratamento psicológico e os reflexos deste (Bobby Baker's Diary Drawings. Mental Illness and Me, 1997-2008, 2010). Além do mais, releva que a produção destes desenhos terá tido influência na recuperação de Baker, provando o que Nise da Silveira defendia com a aplicação da terapia ocupacional. Os métodos inovadores desta psiquiatra brasileira originaram os mais de 300 mil documentos plásticos que formam o acervo do Museu do Inconsciente, no Rio de Janeiro, parte do qual foi apresentado na Sede da FCG em 1994, com a exposição «Os Inumeráveis Estados do Ser».

As fases/núcleos surgem descritos pela própria artista no catálogo da exposição:

– A Fase 1, de 20 de janeiro a 5 de fevereiro de 1997, marcada pela entrada da artista no centro de dia e pela sua decisão de realizar um diário gráfico durante o tempo que aí permanecer.

– A Fase 2, de 6 de fevereiro a 25 de março de 1997, durante a qual Bobby Baker se apercebeu de que três semanas não seriam suficientes para a sua recuperação, sendo também uma altura de grande aflição, em que artista se automutila.

– A Fase 3, de 7 de abril a 20 de agosto de 1997, em que se dá uma dependência da artista em relação ao centro de dia e aos seus funcionários, com o ingresso em duas «casas de crise»: The Haven e Drayton Park.

– A Fase 4, de 27 de agosto de 1997 a 15 de maio de 2000, em que artista conseguiu assumir algum controlo sobre a sua vida profissional e em que se começou a aperceber da rede de apoio que se formava à sua volta.

– A Fase 5, de 12 de julho de 2000 a 22 de abril de 2002, época de grande dependência do psicólogo clínico com o qual iniciou uma terapia comportamental dialética.

– A Fase 6, de 24 de abril de 2002 a 20 de janeiro de 2003, marcada por um grande desenvolvimento no seu trabalho, essencial para o equilíbrio da artista, mas ao mesmo tempo de confusão, já que Baker não conseguia perceber qual dos seus estados mentais era real.

– A Fase 7, de 3 de fevereiro a 30 de junho de 2003, período de aparente calma, que na verdade apenas camuflava uma crescente paranoia.

– A Fase 8, de 28 de julho a 29 de dezembro de 2003, que assinalou o início do tratamento a distúrbios alimentares causados pela medicação. Apesar do crescente êxito dos seus espetáculos, Baker via recrudescer estados de paranoia e delírio, chegando a acreditar que tinha uma peça de metal alojada na cabeça.

– A Fase 9, de 26 de janeiro a 1 de novembro de 2004, marcada por grandes desenvolvimentos na sua vida pessoal e profissional, grande sucesso do espetáculo Box Story e lançamento, com lotação esgotada e aclamação da crítica, do projeto How to Live, financiado pela Wellcome Trust.

– A Fase 10, de 13 de abril de 2004 a 25 de abril de 2005, surge no rescaldo da fase anterior. Apesar do grande sucesso de How to Live, a ansiedade causada pelo esgotamento físico e pelo excesso trabalho davam mostras de agravamento.

– A Fase 11, de 9 de maio a 18 de julho de 2005, equivaleu a uma grande solidão e a um novo internamento psiquiátrico, período que durou sete semanas e redundou num dos piores momentos da sua vida.

– A Fase 12, de 29 de agosto de 2005 a 16 de janeiro de 2006, marcou o fim do internamento hospitalar e a ida para França, onde Baker começou a fazer exercício físico e a escrever de forma intensa.

– A Fase 13, de 13 de fevereiro a 28 de agosto de 2006, correspondeu a uma época de deterioração da saúde da mãe e de frustração.

– A Fase 14, de 4 de setembro de 2006 a 28 de agosto de 2007, marcada por um grande volume de trabalho devido à tournée britânica de How to Live e à colaboração com a Creative Routes.

– A Fase 15, de 24 de setembro a 26 de novembro de 2007, durante a qual Baker se confrontou com um diagnóstico de cancro da mama e com o agravamento do estado de saúde da mãe.

– A Fase 16, de 4 de janeiro a 16 de junho de 2008, marcada pela quimioterapia, mas ao mesmo tempo por um sentimento de esperança e melhoria do seu estado mental.

– A Fase 17, de 28 de julho a 25 de agosto de 2008, correspondeu ao último núcleo de trabalhos expostos, caracterizados por um, finalmente, alcançado sentimento de estabilidade.

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Ciclo de cinema

Cinema e Mentes (13x) Mais que a Vida

26 mai 2010 – 25 ago 2010
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala Polivalente
Lisboa, Portugal
Ciclo de conferências

Mind Faces. As Diferentes Faces da Saúde Mental

25 fev 2010
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Auditório 2
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Presidência), Lisboa / PRES 02241

Pasta com documentação referente à divulgação da exposição. Contém texto da apresentação de Emílio Rui Vilar, catálogo e material de divulgação. 2010 – 2010

Arquivos Gulbenkian (Presidência), Lisboa / PRES 02242

Pasta com documentação referente a eventos realizados em 2010. Contém texto do ciclo de cinema «Cinema e Mente (13x) Mais que a Vida», comissariado por João Mário Grilo. 2010 – 2010


Exposições Relacionadas

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