Exposição centrada na carreira do engenheiro de estruturas Peter Rice (1935-1992) e dos que com ele puderam edificar alguns dos ícones da arquitetura mundial da segunda metade do século XX. Muitos dos seus empreendimentos decorreram enquanto consultor da firma de engenharia Ove Arup & Partners.

No catálogo editado pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), o engenheiro Luís de Guimarães Lobato, administrador da Fundação, apresenta a exposição destacando «a articulação entre a criatividade artística e a capacidade imaginativa da utilização dos recursos da ciência e da tecnologia com vista à realização de obras que se tornaram símbolos arquitectónicos do século XX» (Novas Uilizações dos Materiais. A Obra de Peter Rice, 1993). Introduzia-se assim uma seleção de 16 projetos do percurso de Rice, que o catálogo acompanha com memórias descritivas e uma citação do engenheiro irlandês para cada um deles.

Sobressaem o Menil Collection Museum, no Texas (EUA), o Terminal Internacional do Aeroporto de Kansai (Japão) ou a nova catedral Padre Pio, na região italiana de Puglia – todos fruto das muitas colaborações de Rice com o arquiteto Renzo Piano (1937). Destaque ainda para o terminal de TGV de Roissy, no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, ou, na mesma cidade, a referência inevitável que é a Pirâmide Invertida no Carrousel du Louvre, pelo arquiteto chino-americano Ieoh Ming Pei (1917-2019). Realce-se ainda o Museu de Groningen, na Holanda, do arquiteto Alessandro Mendini (1931-2019), inspirado em formas computorizadas da autoria de Frank Stella (1936). A capa do presente catálogo reproduz uma imagem elaborada pelo artista norte-americano no contexto desse projeto.

Atendem-se ainda participações de Rice em projetos laterais à construção civil de grandes obras públicas. Um deles é o Moon Theatre (com uma estrutura para iluminação de palco por reflexão da luz do luar), construído em Provence, França, por iniciativa do encenador Humbert Camerlo (1943), ou os estudos das teias de aranha aplicados à engenharia, coordenados pelo zoólogo Fritz Vollrath.

Stella, Piano, Carmelo, Vollrath ou Richard Rogers (1933), outro arquiteto que colaborou frequentemente com Rice, são apenas alguns dos colaboradores que deixam o seu testemunho sobre o engenheiro no catálogo de exposição editado pela FCG (Ibid., pp. 41-45).

A carreira de Rice notabilizar-se-ia significativamente pela colaboração, logo nos anos 50, na conceção da Sydney Opera House, desenhada por Jørn Utzon (1918-2008), ou pelo projeto da estrutura do Centre Georges Pompidou, assinado por Piano, Richard Rogers, Su Rogers (1939) e Gianfranco Franchini (1938-2009).

«Novas Utilizações dos Materiais. A Obra de Peter Rice» permitiu perceber como a ciência, a técnica e a engenharia influenciam esteticamente as paisagens urbanas do mundo contemporâneo. A receção da mostra em Lisboa foi organizada pelo Centro de Arte Moderna da FCG e inaugurou a 4 de junho de 1994 na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG, piso 01, onde ficou patente até 5 de julho do mesmo ano. Antes da sua passagem por Portugal o projeto tinha estreado em Londres, na galeria do Royal Institute of British Architects. Seria ainda levado a Edimburgo, Belfast, Dublin e Dundalk, cidade natal de Rice. Surgiu no seguimento da distinção do engenheiro irlandês com a Royal Gold Medal do Royal Institute of British Architects (Carter, «Peter Rice: Building to a Human Scale», The Journal of the International Institute). Essa condecoração internacional tinha-lhe sido atribuída em 1992, ano da sua prematura morte.

Daniel Peres, 2018