Esta obra, de cerca de 1980, foi adquirida por Maria do Carmo Sousa Lima a Miriam Dacosta, em janeiro de 2014. Nela observamos um triângulo isósceles ao centro, embora invertido neste caso, símbolo repetido na obra de António Dacosta que se relaciona com a série Memória.

O triângulo revela uma ligação à ilha Terceira, aludindo a um lugar muito concreto de Angra do Heroísmo: o «Obelisco da Memória a D. Pedro IV», peculiar monumento encomendado por este rei no século XVIII e com impacto cenográfico sobre a cidade da Terceira. Situado perto da casa dos pais de António Dacosta, o monumento teve presença insistente quando este habitou a ilha enquanto criança e adolescente, tornando-se um determinante referente mnemónico da sua obra final.  

Ao lado da série Ilhas, esta série foi marcante na inspiração das memórias de vivências açorianas e na afirmação do regresso criativo de António Dacosta. Sobre a importância da série na retoma regular da produção artística disse Rui Mário Gonçalves: «Quando recomeçou a pintar […] Dacosta realizou pinturas de figuração indefinida, até que uma figura se tornou insistente, em forma de pirâmide. Era uma recordação involuntária da infância. Concentrou-se nessa figura, preenchendo com ela toda a tela» (Gonçalves, 2004).