Este desenho fez parte da forte colaboração de Dacosta com a poetisa Merícia de Lemos, tendo servido de ilustração para a edição do livro de poemas Pássaro Preso (1946). José Luís Porfírio observou neste desenho um momento arqueológico de origem do Tau (a última grande série da produção de Dacosta), descortinável no elemento central que a figura feminina nua de costas observa: «Um desenho de 1942 mostra-nos o que pode interpretar como uma primeira versão do Tau na espécie de cruz alada que se ergue sob um pequeno montículo, um gólgota onde se distinguem crânios, enquanto em primeiro plano um nu reclinado apresenta uma possível oferenda. […]. Mas aquele poste alado é já uma cruz que não só define o espaço, como poderá eventualmente voar através dele». A estranha aparição abre-se no topo através de uma forma ambígua entre folhas de árvore simetricamente dispostas ou duas asas (lembrando o seu recorrente fascínio por aves e anjos) – afinal, alusão poético-visual desse «pássaro preso», título do livro de poemas de Merícia Lemos (Dias, 2016, p. 137).