Esta obra, que pertence atualmente a Ana de Carvalho Alves, pertenceu à coleção do crítico de arte e amigo do pintor, Rui Mário Gonçalves, marido da atual colecionadora falecido a 2 de maio de 2014. Faz parte da série Ilhas, produzida entre os finais da década de 1970 e inícios da década de 1980, cujas obras foram expostas em sequência na sua primeira apresentação na exposição individual na Galeria 111, em 1983.
Tal como a série, esta obra revela ainda algumas ligações à experimentação plástica que Dacosta teria explorado na segunda metade dos anos 70, destacando-se o uso da colagem, mas a anterior tendência abstrata adquire aqui uma tendência figurativa que sinaliza a geografia insular açoriana. Outras das marcas da série é a expressão do vazio.
A série fazia a mediação para a década de 1980, onde António Dacosta acentuava a inspiração do lugar onde já havia vivido num tempo passado, a ilha (Açores, Angra, Terceira). Em vários momentos desta década, o pintor sublinhou ser importante para a sua obra essa «qualidade de Açoriano da Ilha Terceira», sobretudo no contexto comemorativo da homenagem da II Bienal dos Açores (1987) e da retrospetiva apresentada na Fundação Calouste Gulbenkian e na Casa de Serralves (1988). Tendo afirmado: «Vivi nesta ilha [Terceira] tantos anos quantos foram necessários para que o seu contorno físico e espiritual se confundissem de certo modo com a minha imagem do Mundo» («De Dacosta – No Município da sua Cidade Natal», 1988), e acrescentaria em entrevista: «todos nós somos feitos de memória. Acho perfeitamente natural que o lugar privilegiado da minha se inscreva na geografia íntima de tais palavras: Ilha, Açores, Arquipélago…» (Oliveira, «António Dacosta (entrevista). Nada nasce do Nada. Pintar não é mais importante que ler ou jogar às cartas», 1987).
Dias, Fernando Rosa, António Dacosta. A Tentação Mítica. Açores: Secretaria Regional da Educação e Cultura; Direção Regional da Cultura; Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, 2016