«Paris 1990 Setembro»
[verso, margem superior esquerda]
Esta obra, oferecida por António Dacosta à artista plástica Lourdes Castro, faz parte da série Assinaturas, a última projetada por Dacosta, tendo ficado apenas em pequenos exercícios sobre papel e sem nunca passar para as grandes superfícies pictóricas, como era seu desejo. Estas assinaturas tinham a particularidade de corresponderem aos primeiros nomes conhecidos de uma história da pintura portuguesa, de construção e afirmação de uma época de ouro que coincidiu com o tempo de Nuno Gonçalves e os pintores do Manuelino. No tempo destes pintores não havia a mesma consciência e estatuto em torno da noção de autor, e as obras não se assinavam. As assinaturas apareciam em documentos mas não nas obras, como se estivéssemos num tempo fundador de um mundo ou campo da arte, um tempo arqueológico ou anterior à noção de artista enquanto autor. Os nomes dos primeiros heróis da pintura portuguesa, que o livro de história da arte de Vergílio Correia, Pintores Portugueses do Século XV e XVI – que António Dacosta tinha –, estava ainda a destapar da poeira do tempo, apresentavam-se como o centro das composições da série. O nome em assinatura era a figura, a forma e a composição. Dacosta simulava as assinaturas dos velhos mestres como domínio central da composição em fundos brilhantes, para os quais pensava utilizar folhas de ouro ou prata (Dias, 2016, p. 318).
A assinatura presente nesta obra é do pintor português André Gonçalves (1685-1754). Este teve um importante papel no panorama artístico do século XVIII, tendo sido o responsável pela mudança estética que se operou em Portugal na altura, e que consistiu na adoção dos esquemas italiano e francês em detrimento dos hispânicos seiscentistas utilizados até ao momento. André Gonçalves também se destacou pela introdução de uma paleta mais clara do que a utilizada em Portugal e frequente uso de gravuras estrangeiras.
Dias, Fernando Rosa, António Dacosta. A Tentação Mítica. Açores: Secretaria Regional da Educação e Cultura; Direção Regional da Cultura; Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, 2016