A Flor, a Máscara e Eu Adolescente

N.º Inv.
ADP257
Data
1987
Materiais e técnicas
Tinta acrílica sobre tela
Medidas
130,2 x 162,2 cm
Proveniência
Col. Família Dacosta
Inscrições

«A. Dacosta
87»
[verso, canto superior esquerdo]

Esta obra, de 1987, pertence à coleção de Miriam Rewald Dacosta e foi apresentada na exposição retrospetiva de António Dacosta em 1988, na Fundação Calouste Gulbenkian e na Casa de Serralves.

A autorrepresentação está assumida no título desta obra, evocando-se como jovem, ao contrário do que teria feito em 1940, com 25 anos de idade, quando se representou mais velho na obra Antítese da Calma [ADP745]. José Luís Porfírio chama a atenção, no texto que escreve para o catálogo da exposição «António Dacosta – Scène Ouverte» no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, para as referências cristãs e pagãs que surgem indiretamente nesta pintura. Por um lado, a face do António Dacosta é apresentada numa espécie de prato ou auréola, aproximando-se da figura de São João Baptista depois da decapitação. Por outro, a máscara parece ser de origens pagãs. 

Estudos encontrados num bloco de desenhos intitulado «Saudade» [ADD518] revelam que o círculo é um espelho, estando presente um jogo com a autorrepresentação, entre o reflexo do espelho e a pintura, numa circularidade entre presença e ausência. O próprio pintor afirmou em entrevista: «Foi o que de facto tentei primeiro fazer no plano da tela, que é um plano, ao mesmo tempo, de presença e de ausência, ao contrário do espelho, que só nos dá a presença, como diz Pascal. (…). A fotografia fala-nos sobretudo da ausência! E dá-me pesar não me poder servir das suas ambiguidades» (Pinharanda, «António Dacosta. Saudades deste sítio», 1990).

Pode-se dizer que «António Dacosta explora as diferentes conjugações destes tempos da imagem da sua auto-representação. Ao se projetar num paradoxal espelho pintado através da imagem passada de si próprio como adolescente, expõe pela pintura uma impossibilidade dessa presença ao espe­lho, onde podem surgir anteriores tempos de projeção que o espelho não retém. O espelho não tem memória nem melancolia, como a fotografia tem e a pintura pode ter, porque tudo o que faz a razão da sua imagem desaparece com o modelo. Esta pintura, que pinta esse impossível reflexo de espelho, essa auto-projecção retida na memória, joga assim com diferentes tempos de projeção que se lançam numa espécie de melancólico curto-circuito. (…). Os seus referentes não estão presentes, mas projetam-se da distância do tempo (infância e adolescência) e do espaço (da sua vida de Angra). A memória longa traz consigo algo essencial que o pintor preserva como poder cria­tivo e imagético. Todo o gesto da pintura carrega no seu presente de execução um fatal diferimento — perante ele, o olhar do pintor é já melancolia» (Dias, 2016, p. 296).


Exposições

  • Individual

Dacosta no Museu

2003 / Museu de Angra do Heroísmo, Angra de Heroísmo, Açores


Bibliografia


Antologia Crítica


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