«Um quadro que faz justiça a um título como “Dois limões em férias”, pode servir de exemplo da capacidade de subverter a verosimilhança e implicar a produção de um acréscimo de sentido, de uma ampliação do conhecimento poético, suscitada pelo desejo, sentido pelo espectador, de entender – tornar sentimento seu – a situação enigmática que se lhe oferece. Mas o enigma não se reduz à mera organização formal de um jogo/charada com chave prevista. Pelo contrário, o mistério é um efeito de uma emblematização das figuras, que se destacam de uma densa mas depurada atmosfera visual. Determinada, esta, por uma composição sóbria e rigorosa, uma utilização aberta mas económica da cor e uma textura em que a sensualidade do tratamento das tintas dispensa a acumulação matérica.»

(MELO, PINHARANDA, 1986, pp. 50-52)