«O quadro “Serenata Açoriana” é uma meditação sobre os grandes mistérios da vida e da morte. Assimila imagéticas religiosas da queda de Adão e Eva, misturadas com pagãos sacrifícios de aves, num ambiente que sugere a baía da Ilha Terceira dos Açores. Nas águas, um pequeno barco transporta uma mulher do povo, que parece erguer a cabeça, cantando.

Este quadro foi sendo transformado ao longo do tempo. Inicialmente, os objectos nele representados tinham contornos nítidos. Linhas quase rectas marcavam as nuvens no ar e, em baixo, nitidamente separavam a água da terra. Depois, as alterações introduzidas pelo pintor tornaram ambíguas as matérias ar-água e água-terra. Os rostos humanos perderam o seu esgar primitivo, como se a dor se interiorizasse.»

(Rui Mário Gonçalves in Panorama da Arte Portuguesa do Século XX, 1999, p. 136)