O monumento Em Louvor de…, concebido por António Dacosta

«O monumento Em Louvor de…, concebido por António Dacosta para Angra do Heroísmo e aí inaugurado a 5 de Junho, é uma obra que conjuga uma extrema simplicidade formal, um apurado sentido de adequação espacial e uma larga amplitude de hipóteses de interpretação.

Entre as várias leituras e significações possíveis destaca-se a referência à forma dos mastros de um barco, que remete para a localização geográfica dos Açores e para a história dos Descobrimentos e se integra na temática universal do mar e da viagem. Sugestão reforçada pela própria ideia de padrão. Igualmente directa é a referência ao espaço de um altar, implícita na estrutura da base do monumento. Altar, nave e padrão, portanto.

A estas leituras mais imediatas pode acrescentar-se uma leitura de tipo sexual em que as duas colunas – legíveis como equivalentes dos jorros de água característicos da série de pinturas “Fontes de Sintra” – surgiriam como afirmações triunfantes de energia e vitalidade.

Se quisermos beneficiar uma leitura mais abstracta e depurada podemos ainda falar dos princípios universais de empatia ou simpatia afectuosa que levam uma de duas linhas a desviar-se ligeiramente do seu rumo para que a sua sombra se possa aproximar da outra. Ou seja, o modo como uma deslocação mínima em relação à mais elementar figura geométrica pode desencadear ilimitados efeitos significantes. Linhas de vizinhança. Inclinação de afectos.

A força da presença do monumento quase faz esquecer os eventuais reparos que se podem dirigir não à sua concepção ou projecto mas a alguns aspectos concretos da sua realização.

Um primeiro problema é colocado pelo texto que se lê sobre a parede construída atrás das colunas – que não fazia parte do projecto – e que é exemplo de uma apropriação política e religiosa da obra, consubstanciada numa visão particularmente discutível e anacrónica da história portuguesa.

Também a modificação da escala do altar previsto no projecto, para o aproximar da forma e da função de um regular altar de igreja, reforça de um modo talvez desnecessário a simbologia religiosa do monumento. Teria sido possível considerar, por exemplo, que o elemento presente no projecto não era apenas um altar propriamente dito mas tinha uma escala antropomórfica alusiva às crianças coroadas nas festas do Espírito Santo.»

(MELO, 1995, p. 4)


Bibliografia


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