O corpo do cão, imponente

«O corpo do cão, imponente ao centro com uma estranha textura de porcelana, apresenta uma deformada anatomia constituída por três esferas ritmadas num friso ho­rizontal, envolvendo a cabeça do animal num fechamento do corpo sobre si. O espaço abre-se para cá e para lá deste centro, numa profundidade de estrutura tripla. Em movimento contrário, a acentuada verticalidade do quadro estrangula essa extensão, empolgando a profundidade ao mesmo tempo que acentua o seu aperto. É na extensão e na paradoxal abertura apertada que surgem as estranhe­zas da combinação dos elementos […]. Em contraposição à sonolência do cão, que o escorrer da água faz perdurar como constância de um escoar do tempo, estranha-se a presença de uma vela (ou um fu­nil; ou ainda um desentupidor de canos) com um (ou dois?) híbrido peixe-pássaro no lugar da chama. No segmento de espaço que está para lá, em profundidade, e que constitui a parte superior do quadro, um duelo de espadachins com másca­ra estão suspensos no momento dramático da estocada, que surge praticamente como o único momento agonístico nesta fase metafísica de Dacosta.»

(DIAS, 2016, pp. 112-113)


Bibliografia


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