Noutro quadro, “Antítese da Calma”, também se fala
«Noutro quadro, “Antítese da Calma”, também se fala de obstinação, a obstinação daqueles que lutam na Guerra Civil Espanhola. Existe obstinação no homem que empunha uma granada, enquanto a outra mão abraça um touro. O touro tem uma carga mítica importante, muito rica, que pode representar o povo espanhol e, ao nível do inconsciente colectivo, pode simbolizar o instinto, o espírito dionisíaco, em oposição à razão, ao espírito apolíneo, que pode ser representado por um cavalo.
Mas repare-se que, no quadro de Dacosta, existe uma ambiguidade mítica: o touro tem crina de cavalo.
[…]
No quadro de Dacosta, este touro, com crinas de cavalo, tem as patas traseiras mergulhadas no mar. O mar, símbolo da maternidade… E o homem lutador tem as pernas levantadas por uma mulher nua. Assim, abraçados, o homem lutador e o touro, são irmanados ao nível do momento trágico que vivem e ao nível da significação mítica. Junto deles, uma mulher vestida olha para cima, em busca de outro espaço, de um lugar amplo, livre; e outra figura, certamente criada sob a influência de Jerónimo Bosch, está encerrada numa cave; apenas se vê o rosto que espreita os horrores da guerra. Este rosto é um auto-retrato de António Dacosta.»
(GONÇALVES, 1984, pp. 36-37)