Noutro quadro, “Antítese da Calma” (1940)

«Noutro quadro, “Antítese da Calma” (1940), […] também se fala de obstinação: a obstinação daqueles que lutaram na Guerra Civil Espanhola. Existe obstinação no homem que empunha uma granada, enquanto a outra mão abraça um touro. O touro tem uma carga mítica importante, muito rica, que pode representar o povo espanhol e, ao nível do inconsciente colectivo, pode simbolizar o instinto, o espírito dionisíaco, em oposição à razão, ao espírito apolíneo, que pode ser representado por um cavalo. Mas repare-se que, no quadro de Dacosta, existe uma ambiguidade mítica: o touro tem crina de cavalo. […]

No quadro de Dacosta, este touro, com crinas de cavalo, tem as patas traseiras mergulhadas no mar, símbolo de maternidade. E o homem lutador tem as pernas levantadas por uma mulher nua, que o chicoteia. Assim, abraçados, homem lutador e o touro, são incarnados ao nível do momento trágico que vivem e ao nível da significação mítica. Junto deles, uma mulher vestida olha para cima, em busca de outro espaço, de um lugar amplo, livre; e outra figura, em baixo, certamente criada sob a influência de Jerónimo Bosch, está encerrada numa cave; apenas se vê o rosto que espreita os horrores da guerra. Este rosto é um auto-retrato de António Dacosta.»

(GONÇALVES, 1991, p. 10)


Bibliografia


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