No quadro de António Dacosta co-existem três

«No quadro de António Dacosta co-existem três universos não miscíveis: o da direita definido de maneira naturalista em que as paredes conformam um espaço consistente quási táctil, que embora deserto permanece humanizado, carregado de memória, carregado de tempo, quási excessivamente terno, na amável luz que o envolve.

O da esquerda um espaço mítico, de marcada irrealidade na luz cria de sombras abstractas, na presença de um céu algo maligno, na ausência de escala, na cor rosa-salmão das muralhas, na relação que se estabelece entre as coisas e o espaço envolvente, já que elas não conformam espaço mas simplesmente estão no espaço, sem se interligarem, numa indiferença que a fantasmática presença feminina ao fundo não faz senão sublinhar.

O gato, figurado em contra-luz, apoia a ambiguidade global do quadro, por um lado significando a placidez doméstica do espaço da direita, por outro reforçando a sensação de inquietante ameaça, de maligno mistério do espaço da esquerda.

Ainda um terceiro espaço é definido pela insólita tomada de electricidade que por um lado como que nos acorda da rêverie que os outros espaços nos propõem, e por outro nos mergulha ainda mais fundamente nessa divagação vagamente receosa.

Situada talvez num topo do muro que separa os dois universos, ou talvez num outro espaço próprio situado mais próximo de nós, aquela tomada eléctrica virá possibilitar uma leitura, na qual os outros espaços serão apenas registos de outros quadros, dentro do quadro que o pintor autenticamente pintou.»

(Pedro Vieira de Almeida in O Fantástico na Arquitectura, 1992, pp. 35-36)


Bibliografia


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