Em entrevista de rememoriação (1983)

«Em entrevista de rememoriação (1983), o artista recordará “o contexto” gerador de obras dilacerantes como Diálogo (1939, colecção particular), Antítese da Calma (1940, CAM) ou Cena Aberta (1940, CAM): “havia a guerra, havia uma pressão cultural de outro tipo, uma angústia enorme, e cada quadro era, de certo modo, o somatório de um certo número de coisas que me constituíam”. De facto, é da inominada guerra que eles falam, através dos monstros desventrados e ameaçadores, das gaiolas de pássaros aprisionados, do espanto existencial das mulheres e das crianças, tolhidas pelas bocarras abertas ou sustendo, em prece e acção, o corpo mergulhante do homem de granada na mão, apoiado no mítico boi-cavalo picassiano.

Em termos de resolução plástica, registe-se a recusa da facilidade e da ordem, assumindo o suporte como cena aberta onde cores e formas se geram numa lógica sonambular, afectivamente controlada, e os signos se sobrepõem em articulação visceral. Por isso, o discurso que elaboram detém a opacidade do sonho, conforma-se ao seu espaço vertiginoso e à alacridade das cores onde a luz irrompe, em amarelos e vermelhos densos, que desmultiplicam ou concentram a representação de uma humanidade amputada, perfis espessos, convivendo com monstros e animais icónicos.»

(Raquel Henriques da Silva in História da Arte Portuguesa, 1996, p. 401)


Bibliografia


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