De um modo geral, a passagem da pintura

«De um modo geral, a passagem da pintura medieval à do Renascimento acompanha a mudança da natureza hierática do espaço sagrado para a homogeneidade do espaço profano; a perspectiva é seu mero instrumento. Não devemos, portanto, ver a mudança do espaço perspéctico, do primeiro período de onirismo surrealista de Dacosta, para um espaço posterior (mais fracturado, mais plano – com as suas superfícies lisas, as alterações de escala, as suas divisões rígidas) como uma tentativa de apropriação do espaço sagrado da pintura pré-renascentista? Se este for, de facto o caso, a pintura Melancolia, de 1942, tem de ser vista como uma obra-chave, não só por rarefazer o sentimento subjacente a toda a obra de Dacosta, mas também pelos meios plásticos utilizados para efectuar a transição entre os dois tipos de espaço. Dividida ao meio separando duas formas de representação (uma mais ou menos naturalista e a outra sugerindo De Chirico, parada no tempo, iluminada pelo sol, vaga e subtilmente irreal) nela se dramatiza a ruptura espaço/tempo de um mundo sagrado.»

(Ruth Rosengarten in António Dacosta, 1995, p. 8-9)


Bibliografia


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