“As pirâmides”, escreve António Dacosta

«“As pirâmides”, escreve António Dacosta a Rui Mário Gonçalves, “são, na realidade, ‘Memórias’. Não sei se já estiveste na Terceira. Há no alto da cidade uma Memória (ao D. Pedro IV) piramidal onde brinquei em menino. Tinha-a diante dos olhos, pois vivia ao lado. Isto para te dizer que não são coisas puramente abstractas.” (Carta a Rui Mário Gonçalves, citada em Rui Mário Gonçalves, António Dacosta, Lisboa, Imprensa Nacional, 1984) Refere-se então a uma série de trabalhos sobre papel intitulados Memória nos quais um triângulo, abstracto aparentemente, domina um fundo que nada mais perturba.

Nesta curta afirmação, feita casualmente a um amigo, Dacosta realça algumas relações que se encontram no centro do seu trabalho: a sua relação com a memória e com a passagem do tempo, seu agente; uma relação concomitante com o espaço e o lugar (e, nesta instância particular, com a ilha onde nasceu e passou a sua infância); e a relação entre uma forma aparentemente simples, abstracta e uma imagem mnemónica de que é a representação.»

(ROSENGARTEN, 1995, p. 1P)


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