«A postura do Bailador, numa composição de 1986, é a mesma postura do Cristo, participa numa celebração de mistérios, num ritual dionisíaco, que o vinho numa taça colocado sobre uma mesa, junto da tela, expressamente evoca. Excessos, volúpias, delícias da terra fecunda e devoradora, dança genesíaca que recria o espaço, devolvendo-lhe a energia, a beleza primitivas. O bailador é um herói da terra, uma figura do homem em crescimento (que a coluna branca, eixo vertical a seu lado representa), como esse outro evocando a iconografia de Cristo, recolhido dentro de uma árvore, que o macaco olha ironicamente, como se não acreditasse no seu projecto, no seu desejo de transcendência, tocando um tambor, numa postura humana, enquanto à sua volta a dança cria um clima de festa e irrisão (Sem título – 1984).»

(FERNANDES, 1988, p. 25)