A Festa evoca, portanto

«A Festa evoca, portanto, o imaginário ritualista da Festa do Espírito Santo da ilha Terceira: as corridas de touros e as puxadas do animal à corda, as decorações florais, as procissões. […] há neste quadro um lirismo terno, vigorado pela paleta clara, suave, e pelas figuras harmoniosamente representadas. A composição organiza-se num esquema triangular, sugerido pelo telhado da capela e da tenda em segundo plano e pela posição das patas dianteiras do bezerro branco, engalanado com flores. Montada sobre este está uma criança vestida, com uma cesta repleta de pétalas para serem lançadas. No chão outro menino, mas desta feita despido, segurando um bastão (o ceptro entregue à criança que preside às celebrações?) […] António Dacosta resolve assim com maestria a união do sagrado e do profano, elevados a uma outra dimensão – o menino ostentando as cores (azul e púrpura) tradicionalmente utilizadas na história da arte para a simbologia do sagrado, a criança nua, o bezerro, símbolo do sacrifício a Deus, meio bíblico de expiação, e oferenda nos rituais pagãos. Dacosta recorre e funde as duas grandes fontes do cânone ocidental: a cultura judaico-cristã e a Antiguidade Clássica.»

(SARAIVA, 2014, p. 31)


Bibliografia


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