«[…] a composição cromática geral sustenta-se numa espécie de paradoxo, entre a luminosa brancura central do bezerro e das crianças, e o obscurecimento sorumbático dos fundos.

Apenso ao bezerro observa-se uma criança sobre um vitelo branco e flori­do, lançando pétalas de um cesto, enquanto outra criança de um branco de mar­fim está sentada no chão com o que pode ser uma flauta ou um ceptro, mas que para nós é uma das “canas-do-ar” que as crianças disputam em torno do lançador de foguetes enquanto acompanham o cortejo festivo. Ao fundo, à esquerda, um edifício alusivo a um Império das Festas do Espírito Santo, uma categoria única de templo, no caso um modelo raro com escada de pedra, sem corrimão. No topo do tímpano observa-se a coroa tradicional, aqui uma tipologia compacta com uma pomba de asas abertas no topo. O branco do bezerro florido central domina o ambiente cromático com a brancura alva. Do lado direito ao fundo, uma figura fe­minina recua ao nosso olhar, na espacialidade da cena […].

Mas a delicadeza desta Festa de cor encantadora e lírica aglutina outro lado, uma melancolia mais trágica que lhe complementa o sentido. […] Esta é a festa antes do sa­crifício […].»

(DIAS, 2016, pp. 126-129)