« […] a aura circular em torno da cabeça (que pode parecer uma cabeça numa lua, uma citação da iconografia de São João Baptista ou ainda uma auréola) é, afinal, um espelho. O que parecia ser uma espécie de disco de lua com o autorretrato em adoles­cente no seu interior, revelou-se afinal um trabalho sobre o reflexo presente da imagem e a sua distância na evocação da memória, através de um exercício de autorretrato. […] O elemento central do quadro é o autorretrato como adolescente, sobre uma mancha circular branca […] mas apresentam-se vários outros elementos que a atravessam em friso a meio, numa espécie de dispersão mnemónica de entes que sobrevêm como fantasmas do passado. […] Esses elementos que se dispersam ao lon­go desse friso horizontal estão em estado de desaparição, como que cobertos por outras camadas. Parecendo fantasmas de elementos que estiveram no qua­dro, produzem um efeito temporal, como figuras do passado que a memória não reconstitui totalmente, deixando os elementos a vaguear sem despontarem no presente.»

(DIAS, 2016, p. 294)