O monumento Altar Nave – “Em louvor de…”

«O monumento Altar Nave – “Em louvor de…”, concebido por António Dacosta para Angra do Heroísmo e aí inaugurado a 5 de Junho de 1995, é uma obra admirável que consegue conjugar uma extrema simplicidade formal, um apurado sentido de adequação espacial e uma larga amplitude de hipóteses de interpretação, leituras e significações possíveis.

Entre as várias leituras e significações possíveis destaca-se a referência à forma dos mastros de um barco, que remete para a localização geográfica dos Açores e para a história dos descobrimentos e se integra na temática universal do mar e da viagem. Sugestão reforçada pela própria ideia de padrão. Igualmente directa é a referência ao espaço de um altar implícita na estrutura da base do monumento. Altar, nave e padrão, portanto. 

Julgamos no entanto que a estas leituras mais imediatas se pode acrescentar uma leitura de tipo sexual em que as duas colunas – que podem ser vistas como equivalentes dos jorros de água característicos da série de trabalhos “Fontes de Sintra” – surgiriam como afirmações triunfantes de energia e vitalidade.

Se quisermos beneficiar uma leitura mais abstracta e depurada, poderemos ainda falar dos princípios universais de empatia ou simpatia afectuosa que levam uma de duas linhas a desviar-se ligeiramente do seu rumo para que a sua sombra se possa aproximar da outra. […] Linhas de vizinhança. Inclinação de afectos.

A força da presença do monumento quase faz esquecer os eventuais reparos que se podem dirigir não á sua concepção e projecto mas a alguns pormenores concretos da sua realização. Um primeiro problema é colocado pelo texto que se lê sobre a parede construída atrás das colunas – que não fazia parte do projecto – e que é um exemplo típico de uma apropriação política e religiosa da obra, acepção acima referida, consubstanciada, neste caso, numa visão bastante discutível e algo anacrónica da história portuguesa.

Também a modificação da escala do altar previsto no projecto, para o aproximar da forma e da função de um regular altar de igreja, reforça de um modo talvez desnecessário a simbologia religiosa do monumento.» p.63

(Alexandre Melo in António Dacosta. O Coração dos Oceanos, 1995, pp. 60; 62-63)


Bibliografia


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