O V.N. – Retrato de Vitorino Nemésio (1966), tornou-se a mais destacada pintura efetuada por Dacosta durante o seu tempo de suspensão da pintura – razão de encontro em Angra do Heroísmo, entre o mais famoso poeta e o mais famoso pintor açorianos, vivos à data, da ilha Terceira. O pintor e o escritor já se tinham encontrado cruzado, e Vitorino Nemésio já escrevera para a revista Variante, em 1943, um dos mais famosos estudos sobre Dacosta.

Sobre este retrato, diria Dacosta em entrevista: «De vez quando pintava. Pintei por exemplo o retrato do Vitorino Nemésio quando nos encontrámos os dois, de férias, nos Açores, há já alguns anos. Sim, eu de vez em quando pegava no pincel, assim a título nenhum. A renúncia não implica a incapacidade de fazer» (Avillez, «Artes Plásticas/Entrevista. António Dacosta: o regresso à pintura 25 anos depois», 1983).

Existe um primeiro estudo no verso de retrato íntimo do sobrinho-neto João Pedro M. Soares, 1966 [ADD87], realizado em casa da sobrinha Iva Soares. Esta pintura teria sido começada a realizar-se aí, em convívio familiar com Nemésio, mas teria terminado em ato mais público, na Sala dos Reservados da Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroísmo, onde se realizava a exposição de homenagem ao escritor no âmbito da homenagem aos 50 anos de Vida Literária de Vitorino Nemésio. De retrato íntimo passava a retrato solene e comemorativo. No final do retrato, Dacosta inscrevia com os dedos «V.N.», alusão a Vitorino Nemésio. Por provocação de expressão «Vinho Novo», dita de imediato por parte do amigo João Afonso (que queria explorar o sentido de «obra nova», relativo ao regresso do pintor), as duas expressões passaram a colar-se a esta inscrição na pintura. Esta obra pode ser vista na terra natal de Dacosta, onde foi realizada, encontrando-se no Museu de Angra do Heroísmo.