- Obras
- Desenho
- Sentimentos de um Ocidental
Sentimentos de um Ocidental
- N.º Inv.
- ADD509
- Data
- c. 1988 – 1989
- Materiais e técnicas
- Caneta de feltro sobre papel impresso colado em papel
- Medidas
- 15 x 23,5 cm (mancha) 46, 7 x 37,3 cm (suporte)
- Proveniência
- Col. Família Dacosta
- Inscrições
«Série “Sentimentos de um Ocidental”»
[frente, quadrante superior esquerdo (fora da mancha)]«A Dacosta»
[frente, quadrante inferior direito (fora da mancha)]
Sentimentos de um Ocidental foi mais uma das séries esboçadas por António Dacosta que se ficaria por alguns estudos. No seu Bloco de desenhos (“Saudade”) [ADD518], Dacosta esboça um estudo para este desenho. Formalmente, há alguma aproximação com um conjunto de obras que também representam barras ou segmentos recortados na superfície [ADP265; ADP720], mas com outro cromatismo e disposição dos elementos, distribuídos num modo mais assimétrico e irregular que o verificado nesta obra.
O título liga-se diretamente a um famoso poema de Cesário Verde com o qual o historiador de arte Fernando Rosa Dias tentou estabelecer possíveis relações: «Numa obra isolada final o pintor escreveu «série Sentimento de um Ocidental» [ADD509]. Não figurativa, a pintura apresenta uma grelha de barras sobre um cromatismo obscurecido. A suposta série remete para um poema homónimo de Cesário Verde de 1880, dividido em quatro partes (Ave-Marias, Noite Fechada, Ao Gás, Horas Mortas), que aborda o passeio solitário de um sujeito no lazer de um Sábado, transitando num tempo inútil através do qual vai descobrindo a cidade. Esta odisseia mundana ou epopeia às avessas torna-se caricatura poética do progresso ocidental. À maneira do percurso artístico de Dacosta na década de 1980, a deambulação vai-se tornando mais obscura e de maior tensão existencial» (Dias, 2016, pp. 208-209).
(…)
E eu desconfio, até, de um aneurisma
Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes;
À vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes,
Chora-me o coração que se enche e que se abisma.
(…)
Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
(…)
(Cesário Verde, Sentimento de um Ocidental)