Miriam Rewald cresceu nos Estados Unidos, após a sua família de origens judaicas ter fugido da Alemanha de Hitler, onde estudou História da Arte. Por volta de 1963, Miriam chegava a Paris e, em outubro do mesmo ano, através de um conhecimento mútuo da sua tia, conhece António Dacosta no restaurante de um hotel parisiense. Dacosta e Miriam apaixonaram-se e, durante os anos seguintes, vivem em vários hotéis parisienses, sobretudo na Rue des Vaugirard. Casavam-se em Paris no ano de 1967.

Esta pintura, que tem pertencido à família do artista, seria realizada nessa passagem por hotéis parisienses por onde residia o casal, numa altura em que o artista não tinha morada fixa nem atelier. O intimismo decide-se entre a pose melancólica de Miriam e a precaridade oferecida pelos materiais à mão, que tentam tratar a jovem Miriam com a delicadeza impressiva do espalhador de pigmentos. O rosto de Miriam domina a composição, num apelo de proximidade que prende a sua figura à moldura pintada como um caixilho de janela.

Mais do que uma pintura do pintor, este é um registo afetivo do homem, marca de tempos em que a prática regular e programática do artista se abandonou, mas em que se sinalizavam as presenças de encontros furtuitos – a que José-Luís Porfírio chamou de «retratos íntimos» (O Rosto na Obra de António Dacosta, 1997).