- Obras
- Desenho
Bloco de desenhos
- N.º Inv.
- ADD517
- Data
- 1989
- Materiais e técnicas
- Esferográfica, grafite, carvão, lápis de cor e pastel seco sobre folhas de papel
- Medidas
- 15 x 10,6 cm
- Proveniência
- Col. Família Dacosta
- Inscrições
«[ilegível] de que a
pintura é um
problema [ilegível]
[ilegível] através duma
armadura [ilegível]
teológica, um
método que [iegível]
num artigo de fé modernista ergue»
[folha 2]«se [ilegível] “ao universal
sem conceito” de
Kant para resolver
o problema [ilegível]
…»
[folha 3]«O Expressionismo
actual insiste para-
[ilegivel] numa espécie
de moralização da
arte. – Sem [ilegível]
[ilegível] ? O Abstractionismo é
[ilegível] pesado, ele.
O poder do primitivo
sem a máscara de ritu-
almente falsa.
(?) O mito é a
mentira.»
[folha 4]«SAUDADE»
[folha 11, na composição]«mesma figura
na TV e em
branco»
[folha 13, margem superior ao centro]«[ilegível]
corações
[ilegível]»
[folha 14, ao centro]«3 corações»
[folha 15, margem inferior ao centro]«(1) eixo que | pag 5
melodia
é ribeiro.
Claro que talvez
pudesse fazer um barco
desta árvore e ir também pelo rio abaixo. Mas esca-
var num tronco assim duro, com
quê. Além disso, resta só
ver a que porto irão dar
as águas deste rio. Decerto
ao mar. Depois,
talvez comece a dizer a
propósito disto o que me dizia
minha mãe. Não, não
vale a pena usares a roupa»
[folha 21]«nem os pés nas estradas
nem nas águas deste
triste mundo. Melhor
é, meu filho, estares quie-
to e esperares pelo bom
tempo depois da chuva, pe-
lo dia depois a da noite, pelo
sol depois da lua, pelo silên-
cio depois da palavra, pela
morte depois da vida, pela
Primavera depois do Inverno..
Que [ilegível] muito rigoroso! Ela
era da montanha! Meu
pai também, que ele costumava
perguntar às pessoas que passa-
vam pela nossa porta
aonde iam elas. Elas mal»
[folha 22]«o olhavam mas,
um pouco mais adiante, olhavam
atrás e Ó! Maravilha! cai-
am num recolhimento [ilegível]
[ilegível] a uma espécie de sono ou esque-
cimento de si mesmas. Meu
pai sorria, olhava o relógio e
o vento soprava ao de leve, ca-
ia a noite, devagar as [ilegível] pessoas como que
acordavam e diziam Ó! Temos de ir.
E iam. Só duma vez uma
dessas caminhantes explicou o seu caso.
Já porque ela era duma
beleza cheia de graça e ele,
muito cheio de cuidados mas sem
palavras das suas força, deu
querer»
[folha 23]«eu reflectir na contemplação
dele por ela e chegou à conclusão que
o destino do homem
era que o [ilegível]
do seus mais importante de afectos. Por
isso ia onde ia. Meu pai disse
que sim, que fosse. E eu
agora debaixo desta árvore a todos
digo o mesmo.. Passa via [ilegível],
vai onde o destino te chama,
aprende a distinguir o azul
do amarelo, o alto do baixo, dei-
xa a montanha para trás e segue
as águas deste rio.
Ó fazer um barco
à vela com as tábuas do
Sol.»
[folha 24]«Um ano novo
começa
começa bem para o
povo
___
Acaba o ano de 1989
Já os dias vão crescendo
Como uma roda que se move
Tudo o que nasce vai sendo
Neste mundo que se inventa
Mais novo em 1990.»
[folha 25]«Aqui estou eu, por bai-
xo de uma árvore, à
beira dum riacho que
desce da montanha
aos saltos e depois
se alcança, já calmo,
por este vale de areia
e [ilegível]. Além das suas
águas deste ribeiro [ilegível]
nada mal de vida. A! Sim,
ao cimo da árvore à
sombra da qual eu estou, um
melro, como que perdido
de todo»
[folha 26]«Canção o seu cantar pelo
todo espaço. Mas Ó! De-
solação de repente ei-lo
que cessa a melo-
dia, cai da [ilegível] da
árvore abaixo e é logo
levado nas águas da
ribeira. Morto era, o
pobre pássaro. Claro…»
[folha 27]
Bloco de desenhos criado no final do ano de 1989 e inícios de 1990. Este é um dos blocos mais completos que se conhecem de António Dacosta. Algo intimista, revela uma deambulação de ideias criativas, entre desenhos e textos. Entre os desenhos, destacam-se um desenho com uma espécie de macaco pendurado numa liana, sendo menos claro outras inscrições; vários estudos para um dispositivo com barcos, com ondas e por vezes ilhas; uma placa de parede; uma figura híbrida do seu bichiário, representada em várias situações com uma língua da sogra, elemento que já aparecera noutros trabalhos; uma referência à série Fontes de Sintra, com a inscrição «Saudade», no que parece ser um projeto tridimensional (e permite possivelmente estabelecer relações com o Monumento Em Louvor de…); Corações; etc. Além dos desenhos, o bloco apresenta várias páginas com textos, alguns de dimensão mais poética, outros de reflexão sobre questões da arte. Um dos textos permite assinalar a data e os anos de transição destes trabalhos:
«Um ano novo começa
Começa bem para o povo
_
Acaba o Ano de 1989
Já os dias vão crescendo
Como uma roda que se move
Tudo o que move vai sendo
Neste mundo que te inventa
Mais novo em 1990.»