«Veja-se ainda o que se passa em Queria Este Pato por contraposição ao Ceci n’est pas une pipe (Magritte). […] Para Magritte o objecto enquanto imagem não é um objecto, mas uma representação, embora, separados, imagem e objecto como objectos sejam análogos. Em Queria Este Pato não é retomado este problema nos mesmos termos; é posto o acento na co-incidência da acção e do seu efeito. […] Queria Este Pato designa a intenção (pensamento que acompanha ou precede a acção e o efeito); responde ao olhar interrogativo, retrospectivo que reconhece a não posse, a não gratificação, em suma, aquilo que está na origem da melancolia. […] Uma outra perspectiva admissível: o pato, tendo sido objecto do desejo, representa, enquanto obra realizada, um resíduo, resto ou sinal desse ímpeto, insatisfeito, fixado, conservado, o qual por sua vez funcionará como poder de eclosão da situação estética.»

(RIBEIRO, 1992, pp. 31; 33)