É o [quadro] da Adivinha Deolinda

«É o [quadro] da “Adivinha Deolinda”, com o seu rosto de perfil, lenço na cabeça, blusa, saia e avental, o enigmático galo ao colo, e uma menina com bandeira posta no canto superior direito, como retrato dependurado na parede, talvez recordação de uma Deolinda-menina. Na expressão desta mulher, é visível um enigmático pudor, não deixando adivinhar porque é “adivinha Deolinda”. O poema decifra todos os enigmas. […] Deolinda tem que tirar o lenço e o avental, despir a saia e a blusa. Do galo, o poema não fala, a não ser que ele seja o Poeta em metáfora. Em dois olhares diferentes, mas aqui complementares, Deolinda é assim:

“1.
Tira as roupas rapariga
Mostra as vergonhas
Que isso
Voa voa asa branca
Não se faz vestida

Tens pele de pão doce
Seios do Pico
Um ventre de baía
Falta-te o navio
E a caneca de vinho

Mito mita
Gruta grota
O escaler vai partir
Despacha-te rapariga
Come e cala.”

“2.
Deolinda que de mim és rainha
Move essa pedra e diz-me
Porque fogem os peões
De que servem estes ismos

Sequestrada no teu reino
Vês os ardentes cavaleiros
Da janela donde os chamas
Subir escadas e escadas descer

Rainha de rei sem trono
As rendas que fazes e desfazes
Os fios com que te enlaças
São o ouro do teu pescoço

Deolinda finda o teu tecer
Vem comigo olhar o mar.”

[…] Dacosta, o próprio, diz que “ela sabia tudo sem nunca ter aprendido nada“.»

(Texto inédito de Álamo Oliveira, 2004)


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