As figuras centrais, do par de cães

«As figuras centrais, do par de cães, apresentam-se esventradas, numa ostentação da crueldade, segurando estranhos elementos, como aves, e manuscritos. Das en­tranhas da cadela cai uma mão que segura um indecifrável elemento. A figura fe­minina, numa varanda à direita, segura estupefacta uma lanterna de gás (que nada ilumina) e uma gaiola que parece conter um réptil. É um dos primeiros quadros em que Dacosta começa a encenar o absurdo com várias figuras, colocadas em primeiro plano numa conjugação inusitada das coisas. O título fala de um Diálogo por absur­do, um diálogo que se esbanja em violência, pelo que, de novo, não nos esquivamos a conotações com a Segunda Guerra Mundial. Esta utilização simbólica do mundo animal, parece lançar uma “tácita acusação do homem”.

A composição apresenta uma acumulação de elementos que ritma a com­posição, ao mesmo tempo que estes se especam num estranho estatismo em acção. A disposição dos cães efetua uma contorção em “S” deitado como centro da irradia­ção dos corpos, provocando um ritmo ondulante a agitar o primeiro plano do qua­dro. Esta ondulação contrasta com a tensa suspensão das figuras. Ao centro de uma dessas curvas, à esquerda, o fundo abre-se, criando uma tensão de espaço entre o excesso de violência próxima e o recuo brusco do horizonte indolente. Ao longe, nesta pequena fresta, surgem colinas e água, elementos que só se vislumbram nes­te ponto central. Uma das pontas da contorção do “S” finaliza com a boca aberta do cão, que nos projeta para o lado oposto, lançando um eterno recomeço do círculo de sinuosidade.»

(DIAS, 2016, p. 78)


Bibliografia


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