Vidas Ubuntu

A Academia de Líderes Ubuntu foi eleita como "projeto exemplar" pela Comissão Europeia
03 out 2017

Desenvolvido pelo Instituto Padre António Vieira e apoiado, desde o início, pela Fundação Calouste Gulbenkian, o projeto Academia de Líderes Ubuntu (ALU) foi recentemente indicado pela Comissão Europeia como um caso exemplar de boas práticas em toda a Europa. Distinguido entre 114 projetos no âmbito do trabalho com jovens e na área da aprendizagem do empreendedorismo em toda a Europa, a ALU foi o único “caso de estudo” de sucesso considerado na Península Ibérica.

Lançado em 2010, este é um projeto de capacitação de jovens com elevado potencial de liderança, provenientes de contextos de exclusão social ou com aptidão para aí trabalharem. Seguindo uma metodologia de educação não formal, o projeto põe em prática o Método Ubuntu, que deriva do conceito “Eu sou porque tu és / eu só posso ser pessoa através das outras pessoas”, dando particular atenção a cinco dimensões de formação: o autoconhecimento, a autoconfiança, a resiliência, a empatia e o serviço.

Os modelos de referência têm uma importância central neste projeto: os participantes estudam e refletem sobre a história de vida de líderes com projeção mundial como Nelson Mandela, Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, Desmond Tutu, Malala Yousafzai e Aristides de Sousa Mendes. Através das suas metodologias e ferramentas inovadoras, a ALU contribui para a aquisição de competências dos jovens, ajudando-os a alcançar os seus desafios pessoais e a afirmar-se como agentes de transformação no seio das suas comunidades. Mamadú, Eugénia e Sofia são apenas três histórias no universo de líderes que a Academia já formou.

 

“Permitiu-me encontrar um modo de vida”
Mamadú Saibana Baldé, 31 anos

‘Tchintchor’ é uma ave migratória da Guiné-Bissau e é também o nome de um projeto aí lançado em 2012, com o intuito de contribuir para o desenvolvimento do país, apoiando os jovens da Guiné-Bissau. Um dos fundadores e dinamizadores do Tchintchor, que entretanto ganhou estatuto de ONG, foi Mamadú Saibana Baldé, nascido na Guiné-Bissau, um país que há pouco menos de duas décadas viveu uma guerra civil. Aos 17 anos, Mamadú veio para Lisboa para fazer a licenciatura em Estudos Africanos e simultaneamente desenvolveu vários trabalhos de voluntariado. Participou na 1.ª edição da ALU (2010/2012), que o inspirou a regressar à Guiné-Bissau, dez anos depois de ter partido. Tchintchor é uma espécie de spin-off da Academia Ubuntu em Portugal, uma experiência que foi “marcante” para o jovem gestor de projetos sociais. “A Academia permitiu-me encontrar um modo de vida”, diz Mamadú Saibana Baldé, que assumiu a missão de “fazer a ponte onde ela for necessária”. “Hoje, sou por opção uma pessoa que vive a filosofia ubuntu e uso-a como ferramenta para transformar o mundo.”

 

“A liderança mais difícil é sermos líderes de nós próprios”
Eugénia Costa Quaresma, 42 anos

É a primeira mulher e leiga a assumir a direção do Secretariado Nacional da Mobilidade Humana e da Obra Católica Portuguesa de Migrações, um departamento da Conferência Episcopal Portuguesa que durante mais de 50 anos foi liderado por homens religiosos. A sua nomeação, em 2014, aconteceu “inesperadamente”, diz Eugénia Costa Quaresma, que trabalhava há mais de dez anos com o organismo que lhe trouxe este reconhecimento. “Desde o início que o sentido de responsabilidade foi grande, mas lembro-me de ter pensado que a Academia [de Líderes Ubuntu] me tinha preparado para isto: para a gestão das expectativas, para cultivar a proximidade com aqueles que sou chamada a servir.” Nascida em Lisboa, filha de pais são-tomenses, Eugénia teve uma educação cristã e depois da licenciatura especializou-se em Teorias e Técnicas Psicopedagógicas. Em 2010, participou na 1.ª edição da ALU, num grupo que integrava outros filhos de imigrantes. “Encontrei-me com a diversidade cultural africana, religiosa e reconciliei-me com as identidades que em mim coexistem”, revela. “Aprendi que a liderança mais difícil é sermos líderes de nós próprios.”

 

“Não somos «treinadores de bancada»”
Sofia Mexia Alves, 31 anos

No ano passado, partiu em missão para a ilha grega de Lesbos, porta de entrada na Europa para muitos milhares de refugiados que atravessam o Mediterrâneo. Sentiu que era urgente trabalhar com um grupo particularmente vulnerável nos campos de refugiados: os adolescentes e os jovens. “A fragilidade e os riscos aumentam a cada dia que não vão à escola, que não têm um trabalho, uma ocupação, deixando que a revolta, a insatisfação, o tédio, a tristeza e por vezes a depressão tomem conta dos dias”, diz Sofia Mexia Alves, que aos 20 anos começou a fazer voluntariado fora de Portugal. Esteve em Angola, Moçambique e Cabo Verde. Formada em Psicologia, Sofia foi uma das participantes da 3.ª edição da Academia (2015/2016), no Porto, onde encontrou “pessoas que se importam com o estado das coisas e que procuram, de forma ativa, transformar a realidade. [Na Academia] não somos ‘treinadores de bancada’, não nos limitamos a queixar-nos e a deixar passar”. Um ensinamento que aplicou na Grécia, com um grupo de cerca de 20 rapazes e raparigas, de cinco países diferentes. “Eram três tardes por semana em que falávamos das coisas mais dramáticas até às mais leves e cómicas, vimos filmes e fizemos debates, falámos sobre problemas comunitários e mundiais, partilhámos as nossas histórias de vida, explorámos os nossos talentos e desafiámos os nossos medos”, conta.

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