Concerto de Ano Novo

Orquestra Gulbenkian / Elena Schwarz / Siobhan Stagg

Orquestra Gulbenkian
Elena Schwarz Maestrina
Siobhan Stagg Soprano

Franz von Suppé (1819 – 1895)
Abertura da opereta Cavalaria Ligeira

Johann Strauss II (1825 – 1899)
Explosions-Polka, op. 43

Léo Delibes (1836 – 1891)
Les filles de Cadix

Johann Strauss II (1825 – 1899)
Abertura da opereta O Barão Cigano

Hans Christian Lumbye (1810 – 1874)
Galope do Caminho-de-Ferro a Vapor de Copenhaga

Giacomo Puccini (1858 – 1924)
La Bohème: “Quando m’en vo soletta”

Josef Hellmesberger Jr. (1855 – 1907)
Dança dos Elfos

Giacomo Puccini (1858 – 1924)
Gianni Schicchi: “O mio babbino caro”

Franz Lehár (1870 – 1948)
Wilde Rosen:Chrysanthemum-Walzer

Johannes Brahms (1833 – 1897)
Dança Húngara n.º 1

Franz Lehár (1870 – 1948)
Giuditta: “Mein Lippen, sie küssen so heiß”

Johann Strauss II (1825 – 1899)
No Belo Danúbio Azul, op. 314

A música vienense ocupa um lugar central nos Concertos de Ano Novo, onde géneros e estilos desfilam num evento especial. Um dos principais expoentes da opereta vienense foi Franz von Suppé (1819-1895). Cavalaria ligeira (Leichte Kavallerie) um dos seus maiores êxitos, foi estreada no Carltheater de Viena a 21 de março de 1866. A famosa abertura tem início com uma fanfarra que remete para o contexto militar. Os instrumentos de sopro destacam-se num andamento enérgico, cedendo a apresentação temática aos violinos sobre um acompanhamento de pizzicatti. O galope dos cavalos, representado pelos ritmos pontuados, contrasta com momentos líricos e é interpolado por melodias evocativas dos ciganos húngaros. O tema principal da abertura é retomado no final.

Franz Lehár (1870-1948) destacou-se igualmente na opereta vienense e Giuditta foi uma das suas últimas obras, consistindo numa história de amor passada nos dois lados do Mediterrâneo, em que o exotismo impera. Foi estreada na Staatsoper de Viena a 20 de janeiro de 1934, numa apresentação transmitida por 120 estações de rádio. Sonoridades espanholas sobressaem em Meine Lippen, sie küssen so heiß”, uma canção com influências operáticas. Interpretada pela protagonista no clube noturno do norte de África onde foi redescoberta pelo seu amor, a letra oscila entre a dúvida e a aceitação.

Além de música de palco, Lehár escreveu danças, como a valsa-boston Wilde Rosen. A boston resultou da apropriação da valsa por bailarinos americanos e atravessou o Atlântico, tendo integrado os bailes europeus do início do século XX. Possivelmente composta nos primeiros anos da década de 20, a melodia sinuosa e os contratemas de Wilde Rosen pairam sobre o acompanhamento regular, criando uma miniatura deliciosa.

A família Strauss contribuiu para a criação da banda sonora do Império Austro-Húngaro. A Explosions-Polka foi escrita por Johann Strauss II (1825-1899) em 1847 e apresentada no Josefstädter Theater de Viena a 8 de fevereiro desse ano. Pouco antes, o cientista Christian Friedrich Schönbein tinha sintetizado o algodão-pólvora, muito usado em contexto militar e no fabrico de fogos-de-artifício. Na obra, uma textura de polca onde a melodia impera é regularmente interrompida por acentuações da percussão que imitam explosões.

Johann Strauss II destacou-se igualmente na opereta, tendo escrito O Barão Cigano (Der Zigeunerbaron) em 1885. A sua abertura coloca-nos na Hungria do século XVIII e alterna temas líricos com melodias de sabor tradicional e danças de salão, num percurso surpreendente.

No Belo Danúbio Azul (An der schönen blauen Donau) é a valsa mais conhecida de Johann Strauss II. Em 1866, o compositor escreveu uma peça coral que se tornaria a base da versão orquestral, um dos maiores êxitos de Strauss, onde se destaca a longa introdução lenta que desemboca numa sequência de valsas contrastantes.

A Dança dos Elfos (Elfenreigen) foi escrita pelo austríaco Josef Hellmesberger Jr. (1855-1907), compositor pertencente a uma família de músicos que perpetuou a tradição da dança em Viena. O ambiente fantástico é criado pela textura esparsa que privilegia as cordas agudas, dando lugar a uma valsa elegante, em que a melodia é acompanhada pelos pizzicatti até ao regresso da secção inicial.

Johannes Brahms (1833-1897) não ficou conhecido como um compositor de música para dançar. Contudo, escreveu muitas obras inspiradas em danças. A Dança Húngara n.º 1 foi composta em 1868 como um arranjo de melodias dos ciganos húngaros para piano a quatro mãos. Em 1873 foi orquestrada pelo compositor. Os contrastes abruptos, o modalismo e o colorido orquestral pontificam na peça, bem como o exotismo das melodias sinuosas, a vivacidade e a sincopação.

O galope é uma dança oitocentista muito praticada no centro da Europa. O Galope do Caminho-de-Ferro a Vapor de Copenhaga (Kjøbenhavns Jernbane Damp Galop) foi escrito e estreado em junho de 1847 pelo dinamarquês Hans Christian Lumbye (1810-1874) e retrata uma viagem de comboio. Após uma introdução lenta que recria o ambiente de uma estação ferroviária, a orquestra simula a marcha do veículo, representada pela secção de percussão.

Se os nómadas húngaros fascinaram os vieneses, Espanha deslumbrou os parisienses. Compositores como Lalo, Bizet e Délibes inspiraram-se nessas paragens para a escrita de diversas obras. A canção orquestral Les filles de Cadix foi escrita em 1874 por Léo Délibes (1836-1891), um proeminente compositor francês. Este inspirou-se na Andaluzia e musicou um texto que evoca elementos identitários da região, dos fidalgos às touradas, passando pelo bolero, então um género associado ao flamenco. Na peça, o colorido local e o virtuosismo operático servem a expressão do texto.

Giacomo Puccini (1858-1924) foi um dos mais destacados compositores da ópera italiana da transição do século XIX para o século XX. O exotismo, o realismo e um sentido de palco particular fundiram-se, deixando-nos páginas únicas. La Bohème é uma ópera que retrata a Paris oitocentista. Estreada em Turim a 1 de fevereiro de 1896, coloca em palco personagens marginais, como artistas e prostitutas, apresentando uma visão naturalista da vida urbana. O universo do cafés-concerto era frequentado por essa franja da população e “Quando m’en vo soletta” é a valsa interpretada por Musetta num desses espaços, o Café Momus. A cantora tenta captar a atenção de Marcello, o seu anterior amante. Puccini recorre ao virtuosismo operático, sublinhado por um acompanhamento esparso, para retratar o amor sensual, o desejo e a angústia da cantora, que protagoniza um momento de intensa expressividade.

A ária “O mio babbino caro” é o único número fechado da ópera Gianni Schicchi, uma ópera cómica estreada na Metropolitan Opera de Nova Iorque a 14 de dezembro de 1918. Inspirada numa passagem de A Divina Comédia, de Dante, mistura as convenções do teatro popular italiano com o lirismo operático. “O mio babbino caro” é uma ária interpretada por Lauretta, filha de Gianni Schicchi, quando esta lhe pede ajuda para casar com o seu amor, Rinuccio. Uma das melodias mais famosas e líricas da história da ópera, que parece distender o tempo, transmite súplica e amor de uma forma magistral.

João Silva

Atualização em 02 fevereiro 2022

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