Abertura da ópera Don Giovanni de Mozart

Orquestra Gulbenkian / Mihhail Gerts

Orquestra Gulbenkian
Mihhail Gerts Maestro

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)      
Abertura da ópera Don Giovanni, K. 527

Da frutuosa colaboração de Wolfgang Amadeus Mozart com o libretista Lorenzo Da Ponte (1749-1838) resultaram três das mais famosas óperas do classicismo musical: As bodas de Fígaro (1786), Don Giovanni (1787) e Così fan tutte (1790). Na data da estreia em Paga, a 29 de outubro de 1787, a ópera Don Giovanni foi anunciada como um dramma giocoso, uma dedignação comum no seu tempo e que denota uma mistura entre elementos de ação séria e cómica. No seu catálogo, Mozart caracterizou a obra como opera buffa, não obstante fundir comédia, melodrama e elementos do sobrenatural. O facto é que, na época, ambas a designações eram usadas para denominar uma grande variedade de tipos de ópera.

Sublimemente tratado por Da Ponte, o libreto de Don Giovanni sintetiza, de forma aparentemente leve, o drama humano e os conflitos domésticos que se desenrolam nos ambientes privados de cada um dos personagens. Os elementos sobrenaturais adicionados conferem à obra a possibilidade de interpretações diversas: do mais elementar jogo entre o Céu e o Inferno, às mais intrincadas extrapolações sobre as várias filosofias esotéricas vigentes.

A composição de Don Giovanni resultou do grande sucesso obtido por Mozart na sua viagem a Praga em janeiro e fevereiro de 1787. A ópera deveria ter sido estreada a 14 de outubro por ocasião da visita a Praga da arquiduquesa Maria Teresa de Áustria, sobrinha do imperador Joseph II. No entanto, várias dificuldades atrasaram a produção – de que Mozart nos dá conta na sua correspondência – o que tornou inviável a data, tendo Don Giovanni sido substituída por As bodas de Figaro, ópera estreada com grande sucesso no ano anterior. Depois de novo adiamento, por motivos de saúde de um dos cantores, Don Giovanni seria finalmente estreada a 29 de outubro. Tal como qualquer outro compositor, Mozart estava sujeito a todos os contratempos habituais da vida teatral. Conta-se frequentemente que Mozart deixou a abertura para último e que as páginas foram para os copistas com a tinta ainda húmida. Lendas deste tipo são comuns entre os compositores de ópera desta época, mas era normal deixar a abertura para o fim. Os instrumentistas da orquestra estavam habituados a tocar com um mínimo de ensaios, enquanto os cantores tinham de decorar os seus papéis.

O dramatismo da ópera revela-se desde o primeiro compasso da Abertura, um Andante que progride numa ambivalência entre os modos maior e menor. Acordes sombrios prenunciam a chegada do Comendador no segundo ato. Suspiros lancinantes nas cordas, notas sustentadas nas cordas, forte sincopação, rufos de timbales e movimentos cromáticos lançam-nos abruptamente para a esperada ação dramática, confrontando-nos com as duas forças principais em interação: a ameaça da Morte e a agitação interiore que anima Don Giovanni. Depois do despertar inicial para o destino do protagonista, Mozart introduz a faceta buffa da ópera, antecipando musicalmente as cenas cómicas num rápido e luminoso Molto allegro, o qual é pontuado pela rudeza dos acordes iniciais.

Miguel Martins Ribeiro

Atualização em 29 março 2022

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