O Monstro no Labirinto

28 ago 2017

Duas centenas e meia de coralistas vão subir ao palco do Grande Auditório para participar na ópera multimédia “O Monstro no Labirinto”, uma produção que fez sucesso no Festival de Aix-en-Provence e que terá três representações na Gulbenkian Música no início da temporada (27, 28 e 29 setembro).

Este espetáculo “maravilhoso” e “encantatório”, como se leu na crítica da estreia, recria a viagem de barco de Teseu a Creta para resgatar as crianças atenienses expatriadas, oferecidas em sacrifício ao terrível Minotauro. Atravessada por um forte simbolismo, a ópera, composta para crianças, jovens e adultos, reúne inúmeros coros amadores de todo o país que se juntam ao Coro e Orquestra Gulbenkian.

Com música do britânico Jonathan Dove, libreto de Alasdair Middleton, encenação de Marie-Eve Signeyrole e projeto cenográfico de Fabien Teigné, o espetáculo conta com a direção musical de Quentin Hindley e a participação dos cantores Carlos Cardoso (Teseu), Cátia Moreso (mãe de Teseu) e Rui Baeta (Dédalo) e ainda do ator Fernando Luís (Minos).

Em julho, durante um período de ensaios, o cenógrafo Fabien Teigné e os dois assistentes de encenação, Marc Salmon e Maud Billen, explicaram como este projeto singular constitui um desafio sempre renovado para a equipa criativa, bem como para a toda a equipa de produção e de cena.

Falando da génese desta ópera, Teigné explicou que a ideia partiu do Festival de Aix-en-Provence, alicerçada numa importante parceria que envolveu a Orquestra Filarmónica de Berlim e a Orquestra Sinfónica de Londres. Depois da estreia em Aix, o projeto foi apresentado em Londres e em Berlim, de um modo distinto em cada cidade, mas sempre sob a batuta do maestro britânico Simon Rattle, que também dirigiu a estreia.

O cenógrafo sublinhou a vertente pedagógica e social deste projeto que envolve um grande número de coralistas amadores, que se juntam a um coro e uma orquestra profissionais, além de quatro solistas.

Teigné não considera difícil trabalhar com um grupo tão diversificado (são cerca uma centena de adultos, uma centena de adolescentes e meia centena de crianças), porque, regra geral, os ensaios decorrem ao longo de bastante tempo, nas férias escolares ou nos fins-de-semana, sendo precedidos de períodos de explicação do projeto para que “todos o possam integrar e para que o possam defender artisticamente”.

Depois há todo um processo de trabalho técnico com as vozes e com os movimentos no palco. Tudo se vai processando, assim, “etapa a etapa”, neste projeto que “não tem por objetivo descobrir vocações, mas proporcionar uma experiência enriquecedora a todos os participantes”, permitindo que “pessoas de várias gerações e de várias classes sociais se aproximem da sala de ópera da sua cidade”.

Marc Salmon, que também tem acompanhado todas as montagens da ópera até agora realizadas, diz que cada produção começa sempre do zero o que, confessa, “é simultaneamente fascinante e terrível”. E deu um exemplo: em Lisboa, os ensaios começaram em novembro de 2016, mas com longos intervalos entre eles. Já em Montpellier, onde esta produção foi também apresentada, os ensaios duraram cerca de três meses. “Em abril deste ano, depois de um intenso período de trabalho em Montpellier, tivemos a satisfação de ver finalmente o espetáculo subir ao palco com grande sucesso. Mas logo no fim-de-semana seguinte, quando voltámos a Lisboa para retomar os ensaios, tínhamos ainda quase tudo por fazer” (risos). Confessa que essa sensação foi um pouco desencorajadora, mas sabe que em cada produção há um longo caminho a percorrer. Maud Billen salienta que este projeto permite a muitos amadores viverem uma verdadeira experiência profissional, e que, para muitos, será mesmo a única da sua vida. Muitos deles correm dos seus empregos (ou escolas) para estarem a horas nos ensaios, cumprindo de um modo muito profissional e empenhado todas as etapas programadas.
Esta é, aliás, uma ideia-chave deste projeto que é reforçada por Fabien Teigné: “A equipa artística e técnica é a mesma que produz espetáculos com intérpretes totalmente profissionais, pelo que os amadores não são tratados como tal, sendo-lhes exigida a mesma energia, a mesma presença em cena e a mesma consciência profissional da restante equipa, para que possam ir o mais longe possível.” Isto nem sempre é fácil, admite, porque “às vezes os jovens estão em período de exames, as crianças estão cansadas e os adultos têm o seu trabalho e a sua família”.

Quanto ao tema abordado, um mito grego, Teigné diz que esta equipa artística tem por norma fazer leituras atuais dos textos clássicos, adaptando-os a uma realidade mais próxima capaz de nos tocar. “Quisemos partir deste tema para falar de um outro que infelizmente está na ordem do dia e que tem a ver com o drama dos refugiados que chegam diariamente à Europa.” Salmon salienta o facto de as imagens desta realidade transmitidas pela televisão, de tão repetidas, acabarem por causar uma indiferença geral. “Ao pôr o dedo na realidade, a arte cristaliza, torna-se capaz de criar emoção, acabando por nos tocar de um modo mais profundo do que uma reportagem nos media. Muitas pessoas saem deste espetáculo comovidas e perturbadas.”

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